quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Max Weber


Max Weber nasceu em Erfurt, Turíngia, Alemanha, em 21 de abril de 1864. Seu pai, Max Weber Sr., era advogado e político; sua mãe, Helene Fallenstein Weber, era mulher culta e liberal que manifestava profundos traços pietistas de fé protestante.
O ambiente erudito e intelectual do lar contribuiu decisivamente para a precocidade do jovem Weber. Basta dizer que aos 13 anos de idade já escrevia ele ensaios históricos penetrantes.
Weber terminou os estudos pré-universitários na primavera de 1882 e foi para Heidelberg, onde se matriculou no curso de Direito. Estudou também diversas outras matérias, como História, Economia e Filosofia, que, em Heidelberg, eram ensinadas por eminentes professores.


Depois de três semestres lá; Weber mudou-se para Estrasburgo a fim de servir o exército por um ano. Quando deu baixa, retomou seus estudos universitários em Berlim e Goettingen onde, em 1886, submeteu-se ao primeiro exame de Direito. Escreveu em 1889 sua tese de doutoramento sobre a história das companhias comerciais da Idade Média; para isso, teve de consultar centenas de documentos espanhóis e italianos, o que lhe exigiu o aprendizado desses idiomas. No ano seguinte, estabeleceu-se como advogado em Berlim; escreveu, por essa época, um tratado intitulado História das Instituições Agrárias; o modesto título encobre, na verdade, uma análise sociológica e econômica do Império Romano.
Em 1893, Weber casou-se com Marianne Schnitger, sua parente longínqua. Depois de casado, passou a levar uma vida de acadêmico bem sucedido em Berlim. No outono de 1894 aceitou a cadeira de Economia da Universidade de Friburgo e, dois anos mais tarde, passava a substituir o eminente Knies em Heidelberg.

Em 1898, Weber apresentou sintomas de esgotamento nervoso e de neurose; até o fim de sua vida, iria sofrer depressões agudas intermitentes, entremeadas de períodos de trabalho intelectual extraordinariamente intenso. A doença o manteve afastado das atividades acadêmicas durante mais de três anos; restabelecido, voltou para Heidelberg e reassumiu parcialmente as atividades docentes. Seu estado de saúde não lhe permitia, entretanto que se dedicasse inteiramente ao magistério. Em decorrência disso, solicitou afastamento das atividades didáticas e promoção para o cargo de professor titular, o que lhe foi concedido pela Universidade.

Apesar das crises nervosas, Weber, juntamente com Sombart, assumiu em 1903 a direção do Archiv für Sozialwissenschaf und Sozialpolitik, que se transformou em uma das mais importantes revistas de ciências sociais da Alemanha, até seu fechamento pelos nazistas.

No ano seguinte, a produtividade intelectual de Weber recebeu novo impulso; ele publicou então diversos ensaios além da primeira parte de A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo.
Em meados de 1904, Weber viajou para os Estados Unidos, que causaram profunda impressão sobre seu espírito analítico. O foco central do seu interesse na América foi o papel da burocracia na democracia. De volta à Alemanha, retomou suas atividades de escritor em Heidelberg, concluindo então A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo.

No período que medeia entre 1906 e 1910, Weber participou intensamente da vida intelectual de Heidelberg, mantendo longas discussões com eminentes acadêmicos, como seu irmão Alfred, Otto Klebs, Eberhard Gotheim, Wilhelm Windelband, Georg Jellinek, Ernst Troeltsch, Karl Neumann, Emil Lask, Friedrich Gundolf, Arthur Salz. Nas férias, muitos amigos vinham a Heidelberg visitá-lo; entre eles, Robert Michels, Werner Sombart, o filósofo Paul Hensel, Hugo Münsterberg, Ferdinand Tüennies, Karl Vossler e, sobretudo, Georg Simmel. Entre os jovens universitários que procuravam o estímulo de Weber contavam-se Paul Honigsheim, Karl Lowenstein e Georg Lukacs.

Após a Primeira. Guerra Mundial, na qual participou ativamente, Weber mudou-se para Viena. Durante o verão de 1918, ministrou seu primeiro curso, depois de dezenove anos de afastamento da cátedra. Nesse curso, apresentou sua sociologia das religiões e da política sob o título de Uma Crítica Positiva da Concepção Materialista da História.
Em 1919, tendo abandonado o monarquismo pelo republicanismo, Weber substituiu Brentano na Universidade de Munique. Suas últimas aulas, feitas a pedidos de alunos, foram publicadas sob o título História Econômica Geral. Em meados de 1920, adoeceu de pneumonia. Morreu em junho de 1920, deixando inacabado um livro de revisão e síntese de toda a sua obra, intitulado Wirtschaft und Gesellschaft, que é de importância fundamental para a compreensão de seu pensamento.

Os numerosos trabalhos de Weber foram, sem exagero, fundamentais para o desenvolvimento da sociologia contemporânea. Pode-se dizer que sua obra, juntamente com a de Marx, de Comte e de Durkheim, é um dos fundamentos da metodologia da sociologia moderna.


Nos dois ensaios apresentados neste volume, o leitor se poderá familiarizar não só com uma amostra da contribuição metodológica de Weber como também com uma de suas mais brilhantes análises substantivas.
Tanto a vida como a obra de Weber têm sido objeto de amplas análises, realizadas por sociólogos famosos como Raymond Aron, Hans Gerth, C. Wrigth Mills e Reinhard Bendix. Este prefácio não pretende, portanto, fornecer subsídios originais para a compreensão do pensamento weberiano. O leitor que desejar aprofundar-se no assunto deverá reportar-se aos trabalhos interpretativos escritos pêlos sociólogos acima mencionados, além, naturalmente, de compulsar as obras do próprio Weber. É certo, entretanto, que a compreensão dos ensaios apresentados neste volume poderá ser facilitada por meio de algumas sugestões interpretativas, que o leitor cuidará de desenvolver na medida que se interesse pela obra de Weber.

Alvin Gouldner, em penetrante ensaio, sugere que tanto as virtudes como os defeitos do pensamento de Weber podem ser explicados a partir das relações estruturais que ele manteve durante sua vida. Mais especificamente, o pensamento de Weber teria sido influenciado principalmente pelas relações que manteve com seus parentes (especialmente com a mãe), pelo , clima universitário existente na Alemanha, pelas viagens que realizou (especialmente aos Estados Unidos) e pelo clima político da Alemanha.


Esse conjunto de influências acabou por produzir, em Weber, aquilo que muitos consideram a preocupação central de sua obra: a racionalidade. A impressão que se tem é a de que seus estudos sobre religiões, a análise do surgimento do capitalismo, os estudos sobre poder e burocracia, os escritos metodológicos e sua sociologia do Direito são tentativas de resposta a perguntas tais como: quais as condições necessárias para o aparecimento da racionalidade?; qual a natureza da racionalidade?; quais as conseqüências sócio-econômicas da racionalidade? Se tal impressão for verdadeira, os dois ensaios que são apresentados em seguida constituem verdadeiros marcos do pensamento de Weber pois ambos se referem especificamente à racionalidade.
Para Weber, a racionalidade diz respeito a uma equação dinâmica entre meios e fins. Nesse particular, ele acreditava (e essa crença permeou o pensamento dos sociólogos funcionalistas contemporâneos, tais como Parsons, Williams, Homans etc.) que toda ação humana é realizada visando a determinadas metas – concepções afetivas do desejável – ou valores. Tais valores são fenômenos culturais e possuem bases extracientíficas. Em outras palavras, as definições do que é bom e do que é mau, do que é bonito e do que é feio, do que é agradável e ao que é desagradável constituem proposições extra-empíricas. Não se pode provar empiricamente que uma coisa seja bela ou feia etc. Semelhantes proposições constituem, nas palavras de Hempel, “julgamentos categóricos de valor”.

Para atingir tais metas ou obter tais valores, o homem precisa agir. A ação humana pode, entretanto, ser mais ou menos eficaz para a consecução de valores. A eficácia do comportamento é relativa porque (a) existem sempre diferentes formas de ação, isto é, a ação humana não ê determinada ou limitada por apenas um curso, mas há sempre alternativas do curso de ação ao dispor do homem e (b) o homem possui uma série de valores que precisam ser selecionados, hierarquizados e visados. Por outro lado, a cada momento e espaço, o homem não consegue fazer duas coisas ao mesmo tempo. Em linguagem sofisticada, pode-se dizer que o Princípio da Complementaridade descoberto por Bohr (segundo o qual o elétron pode ser considerado como onda e como partícula, dependendo do contexto) aplica-se também ao comportamento humano. Como afirma um físico, Von Pauli: “Posso escolher a observação de um experimento A e arruinar B ou escolher a observação de E e arruinar A. Não posso, entretanto, deixar de escolher a ruína de um deles”. Em vista dessa situação, o homem está constantemente enfrentando e sendo obrigado a realizar opções. O problema da opção, como sugere Raymond Aron, confere à obra de Weber um sentido existencialista. Que este problema tem intenso significado ê coisa que se verifica pela oposição entre “ética de condição” (imperativo categórico para o cientista) e a “ética de responsabilidade” (moral de Maquiavel – necessária para a política).

Os critérios de opção da ação humana variam. Segundo Weber, há quatro tipos de orientação para a ação: (a) tradicional, baseada em hábitos de longa prática; (b) affektueel, baseada nas afeições e nos estados sensórios do agente; (c) wertrational, baseada em crença no valor absoluto de um comportamento ético, estético, religioso, ou outra forma, exclusivamente por seu valor e independentemente de qualquer esperança quanto ao sucesso externo; e (d) zwecrational, baseada na expectativa de comportamento e objetos da situação externa e de outros indivíduos usando tais expectativas como “condições” ou “meios” para a consecução bem sucedida dos fins racionalmente escolhidos pelo próprio agente.

É lógico que Weber sabia que cada uma dessas orientações é “racional” quando se leva em conta a equação meios-fins. Mas o seu interesse estava voltado para as condições necessárias, para as manifestações e conseqüências da orientação zwecrational.

Em A Política Como Vocação, tal interesse se volta para as condições necessárias ao funcionamento do Estado moderno, para a burocracia como organização social baseada numa orientação zwecrational de ações e nas conseqüências da burocratização do Estado moderno para a sociedade em que se encontra inserido. Para Weber, diferentes tipos de sociedades apresentam diferentes formas de liderança política. Entretanto, a manutenção dessas lideranças depende de organizações administrativas que realizam a “expropriação” política. São tais organizações que irão, afinal de contas, determinar a “racionalidade” do sistema político; são elas que irão exercer, com maior ou menor sucesso, o monopólio do poder de uma sociedade. A “racionalidade” de semelhantes organizações depende, em primeiro lugar, de uma distinção entre “viver para a política” e “viver da política”. Ainda que Weber não o afirme categoricamente, essa distinção ajuda a compreender as motivações da ação política e, por sua vez, gera o problema da corrupção, na organização política. Em segundo lugar, a racionalidade do sistema político aumenta na medida em que ocorrem uma diferenciação de status-papéis e uma especialização funcional dentro das organizações administrativas.. A brilhante e erudita análise de Weber sugere que a diferenciação ocorre quando há uma especialização entre a administração, que deve ser exercida ira et studio, e a liderança política, cuja ação é, por natureza, fundamentada na ira et studium. Essa especialização, por sua vez, tende a mudar os critérios de alocação de status-papéis na organização política. Os critérios deixam de ser plutocráticos e passam a basear-se no desempenho e no conhecimento especializado. Não há portanto, nessa nova organização, lugar para o dilettante, pois o seu “sucesso” depende, cada vez mais, da ação especializada.

Em A Ciência Como Vocação, o interesse de Weber pela orientação zwecrational se manifesta no exame da própria prática da racionalidade. Segundo ele, a Ciência ou a prática da Ciência contribui para o desenvolvimento da tecnologia, que controla a vida. Contribui, também, para o desenvolvimento de métodos de pensamento, para a construção de instrumentos e adestramento do pensar. Finalmente, a Ciência contribui para o “ganho da clareza”. O que Weber quer dizer com isso? Quer dizer que a Ciência indica os meios necessários para atingir determinadas metas. E que tais metas devem, portanto, ser claramente formuladas, a fim de se identificarem os meios de atingi-las. Por via desse processo, entretanto, os homens ficam sabendo o que querem e o que devem fazer para obter o que querem. E isso possibilita a opção não só de meios mas de metas de comportamento. E eis, segundo Weber, a grande contribuição da Ciência. Em última análise, portanto, a contribuição da prática científica é, para o pensador alemão, o desenvolvimento da racionalidade.
Tem-se a impressão de que o problema da racionalidade assume, por vezes, em Weber, um caráter formalista, que se traduz na adequação entre meios e fins e não no exame crítico dos fins. As experiências de Hiroxima e Nagásaqui, a “guerra fria” e outras manifestações “racionalistas” do após-guerra sugeriram aos cientistas contemporâneos os perigos existentes numa atitude formalista com relação à “racionalidade”.
Weber, entretanto, era um homem de seu tempo e só uma análise da estrutura em que estava inserido nos pode ajudar a compreender sua preocupação com a racionalidade e a maneira como a define.

Ele teve a grande virtude de perceber que, na Alemanha de Weimar, as Universidades estavam sendo impregnadas por ideologias estranhas à educação. Mais precisamente, que o fascismo da nascente política nacional socialista estava começando a ameaçar o espírito crítico e a liberdade de pensamento. Os cargos acadêmicos eram, muitas vezes, preenchidos por indivíduos que utilizavam as cátedras para discursos políticos demagógicos de inspiração fascista. A educação racionalista e jurídica de Weber contribuiu para que ele pudesse perceber o perigo que tal prática trazia não só para a educação como para o próprio futuro da Alemanha. Daí a sua preocupação com a racionalidade e com a objetividade.

Ainda, entretanto, que se descubram as causas estruturais do pensamento weberiano e suas limitações epistemológicas, sua contribuição à Sociologia permanece central não só por suas análises comparativas, por seu método da compreensão (verstehen), ou pela descoberta das conexões entre orientações valorativas e comportamentos estruturais. O pensamento de Weber persiste também porque muitas das características da estrutura social da República de Weimar basicamente se repetem em outras sociedades, em outros tempos.

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