sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

INTRODUÇÃO À MICROECONOMIA


Microeconomia, ou Teoria Geral dos Preços, analisa a formação de preços no mercado, ou seja, como a empresa e o consumidor interagem e decidem qual o preço e a quantidade de um determinado bem ou serviço em mercados específicos.

A Microeconomia lida com:
Comportamento de unidades individuais
No Consumo
Como escolher o quê comprar
Na produção
Como escolher o quê produzir
Mercados: A interação entre consumidores e produtores

OS TEMAS DA MICROECONOMIA
De acordo com Mick Jagger* e os Rolling Stones
§ “Não se pode ter sempre o que se quer ”
Por que não?
§ Recursos limitados
Formado em economia pela London School of Economics

PRESSUPOSTOS BÁSICOS NA ANÁLISE MICROECONÔMICA
A hipótese coeteris paribus “céteris páribus” – tudo o mais permanece constante: o foco de estudo é dirigido apenas àquele mercado, analisando o papel que a oferta e a demanda nele exercem, supondo que outras variáveis interfiram muito pouco, ou que não interfiram de maneira absoluta.

PAPEL DOS PREÇOS RELATIVOS
Na análise microeconômica, são mais relevantes os preços relativos, isto é, os preços dos bens em relação aos demais, do que os preços absolutos (isolados) das mercadorias.
Exemplo: se o preço do guaraná cair 10%, mas também o preço da soda cair em 10%, nada deve acontecer na demanda dos dois bens, mas se cair apenas o preço do guaraná, permanecendo inalterado o preço da soda, deve-se esperar um aumento na quantidade procurada de guaraná e uma queda na soda.
Embora não tenha havido alteração no preço absoluto da soda, seu preço relativo aumentou, quando comparado com o guaraná.

PRINCÍPIO DA RACIONALIDADE
Por esse princípio, os empresários tentam sempre maximizar lucros condicionados pelos custos de produção, os consumidores procuram maximizar sua satisfação no consumo de bens e serviços (limitados por sua renda e pelos preços das mercadorias).

APLICAÇÃO DA ANÁLISE MICROECONÔMICA
A teoria microeconômica não é um manual de técnicas para a tomada de decisões do dia-a-dia, mesmo assim ela representa uma ferramenta útil para esclarecer políticas e estratégias, dentro de um horizonte de planejamento, tanto em nível de empresas quanto de nível de política econômica.



PARA AS EMPRESAS, A ANÁLISE MICROECONÔMICA PODE SUBSIDIAR AS SEGUINTES DECISÕES
Políticas de preços da empresa.
Previsão de demanda e faturamento.
Previsão de custos de produção.
Decisões ótimas de produção (melhor combinação dos custos de produção).
Avaliação e elaboração de projetos de investimentos (análise custo/benefício)
Política de propaganda e publicidade.
Localização da empresa.

A POLÍTICA ECONÔMICA, PODE CONTRIBUIR NA ANÁLISE DE TOMADA DE DECISÕES DAS SEGUINTES QUESTÕES
Efeitos de impostos sobre mercados específicos.
Política de subsídios.
Fixação de preços mínimos na agricultura.
Controle de preços
Política Salarial
Políticas de tarifas públicas. (água, luz, etc.).

DIVISÃO DO ESTUDO MICROECONÔMICO
Análise da Demanda: A Teoria da Demanda ou Procura de uma mercadoria ou serviço divide-se em Teoria do Consumidor e Teoria da Demanda de Mercado.
Análise da Oferta: A Teoria da Oferta de um bem ou serviço também se subdivide em oferta de firma individual e oferta de mercado.
Análise das estruturas de mercado: A partir da demanda e da oferta de mercado são determinados o preço e a quantidade de um bem ou serviço.

DEMANDA DE MERCADO
A demanda ou procura pode ser definida como a quantidade de um determinado bem ou serviço que os consumidores desejam adquirir em determinado período de tempo.
A procura depende de variáveis que influenciam a escolha do consumidor. São elas: o preço do bem e serviço, o preço dos outros bens, a renda do consumidor e o gosto ou preferência do indivíduo.

RELAÇÃO ENTRE A QUANTIDADE PROCURADA E PREÇO DO BEM: A LEI GERAL DA DEMANDA
Há uma relação inversamente proporcional entre a quantidade procurada e o preço do bem. É a chamada Lei Geral da Demanda. Essa relação pode ser observada a partir dos conceitos de escala de procura, curva de procura ou função demanda.

A curva da demanda é negativamente inclinada devido ao efeito conjunto de dois fatores: o efeito substituição e o efeito renda.

Se o preço de um bem aumenta, a queda da quantidade demanda será provocada por esses dois efeitos somados:
EFEITO SUBSTITUIÇÃO

Se um bem possui um substituto, ou seja, outro bem similar que satisfaça a mesma necessidade, quando seu preço aumenta, o consumidor passa adquirir o bem substituto, reduzindo assim sua demanda. Exemplo: Fósforo.

EFEITO RENDA
Quando aumenta o preço de um bem, o consumidor perde o poder aquisitivo e a demanda por esse produto diminui.
Ex:?!?!?

OUTRAS VARIÁVEIS QUE AFETAM A DEMANDA DE UM BEM
Se a renda dos consumidores aumenta e a demanda do produto também, temos um bem normal.
Bem inferior, cuja demanda varia em sentido inverso às variações da renda; exemplo se o consumidor ficar mais rico, diminuirá o consumo de carne de segunda, e aumentará o consumo da carne de primeira.
Bens de consumo saciado, quando a demanda do bem, quase não é influenciada pela renda dos consumidores (arroz, farinha, sal, etc.), muitas vezes ocorre a diminuição do consumo deste tipo de bem, devido ao aumento da renda.
Bens substitutos: Quando há uma relação direta entre o preço de um bem e a quantidade de outro. Exemplo: um aumento no preço da carne deve elevar a demanda de peixe.
Bens complementares: São bens que podem ser utilizados em conjunto ou que ficam melhores utilizados.
Ex: Se aumentar o preço da impressora e a quantidade demandada de cartuchos diminuir é porque a impressora e o cartucho são complementares no consumo.

OFERTA DE MERCADO
Pode-se conceituar oferta como as várias quantidades que os produtores desejam oferecer ao mercado em determinado período de tempo. Da mesma maneira que a demanda, a oferta depende de vários fatores; dentre eles, de seu próprio preço, dos demais preços, dos preços dos fatores de produção, das preferências do empresário e da tecnologia.
Diferentemente da função demanda, a função de oferta mostra uma correlação direta entre a quantidade ofertada e nível de preços. É a chamada Lei Geral da Oferta.
Podemos expressar uma escala de oferta de um bem X, ou seja, dada uma série de preços, quais seriam as quantidades ofertadas a cada preço:

EQUILÍBRIO DE MERCADO
¡ A interação das curvas de demanda e de oferta determina o preço e a quantidade de equilíbrio de um bem ou serviço em um dado mercado.

INTERFERÊNCIA DO GOVERNO NO EQUILÍBRIO DE MERCADO
O governo intervém na formação de preços de mercado, a nível microeconômico , e quando fixa impostos e subsídios, estabelecem critérios de reajustes do salário mínimo, fixa preços mínimos para produtos agrícolas decreta tabelamentos ou ainda congelamento de preços e salários.

ESTABELECIMENTO DE IMPOSTOS
É sabido que quem recolhe a totalidade do tributo é a empresa, mas isso não quer dizer que é ela quem efetivamente paga.
Assim, saber sobre quem recai efetivamente o ônus do tributo é uma questão da maior importância na análise dos mercados.
Os tributos se dividem em:
Impostos;
Taxas;
e contribuições de melhoria.
O impostos dividem-se em:
Impostos Indiretos: impostos incidentes sobre o consumo ou sobre as vendas. Exemplo:
(ICMS), (IPI).
Impostos Diretos: Impostos incidentes sobre a renda. Exemplo: Imposto de Renda.

ENTRE OS IMPOSTOS INDIRETOS DESTACAMOS:
Imposto Específico: Recai sobre a unidade vendida. Exemplo: para cada carro vendido, recolhe-se, a título de imposto, R$ 5.000 ao governo (esse valor é fixo e independente do valor da mercadoria).
Imposto ad valorem: é um percentual (alíquota) aplicado sobre o valor de venda.
Exemplo: supondo a alíquota do IPI sobre automóveis de 10 %, se o valor do automóvel for de R$ 50.000, o valor do IPI será de R$ 5.000; se o valor aumentar para R$ 60.000, o valor do IPI será de R$ 6.000. Assim, como se pode notar, a alíquota permanece inalterada em 10%, enquanto o valor do imposto varia com o preço do automóvel.
Política de preços mínimos na agricultura: Trata-se de uma política que visa dar garantia de preços ao produtor agrícola, com propósito de protegê-lo das flutuações dos preços no mercado, ou seja, ajudá-lo diante de uma possível queda acentuada de preços e conseqüentemente da renda agrícola. O governo, antes do início do plantio, garante um preço que ele pagará após a colheita do produto.
Tabelamento: Refere-se à intervenção do governo no sistema de preços de mercado visando coibir abusos por parte dos vendedores, controlar preços de bens de primeira necessidade ou então refrear o processo inflacionário, como foi adotado no Brasil (Planos Cruzado, Bresser etc.), quando se aplicou o congelamento de preços e salários.



ESTRUTURA DE MERCADO
As várias formas ou estruturas de mercados dependem fundamentalmente de três características:
a) Número de empresas que compõe esse mercado;
b) Tipo do produto (se as firmas fabricam produtos idênticos ou diferenciados);
c) Se existem ou não barreiras ao acesso de novas empresas nesse mercado.


CONCORRÊNCIA PURA OU PERFEITA
É um tipo de mercado em que há um grande número de vendedores (empresas), onde uma empresa, isoladamente, por ser insignificante, não afeta os níveis de oferta do mercado e, conseqüentemente, o preço de equilíbrio.
Nesse tipo de mercado devem prevalecer ainda as seguintes premissas:
Produtos homogêneos: Não existe diferenciação entre os produtos ofertados pelas empresas concorrentes.
Não existem barreiras: para o ingresso de empresas no mercado.
Transparência do mercado: Todas as informações sobre lucros, preços etc. são conhecidas por todos os participantes do mercado.


MONOPÓLIO

Se caracteriza por apresentar condições opostas às da concorrência perfeita. Nele existe, de um lado, um único empresário (empresa) dominando inteiramente a oferta e de outro, todos os consumidores. Não há, portanto concorrência, nem produto substituto ou concorrente.
Nesse caso, ou os consumidores se submetem às condições impostas pelo vendedor, ou simplesmente deixaram de consumir o produto.
Ao ser exclusiva no mercado, a empresa não estará sujeita aos preços vigentes. Mas isso não significa que poderá aumentar os preços indefinidamente.
Para sua existência, deve haver barreiras que praticamente impeçam a entrada de novas firmas no mercado. Essas barreiras podem advir das seguintes condições: Monopólio puro, elevado volume de capital, patente e controle de matérias-primas básicas, existem ainda, os monopólios institucionais ou estatais em setores considerados estratégicos ou de segurança nacional (petróleo, energia, comunicação).


OLIGOPÓLIO
É caracterizada por um pequeno número de empresas que dominam a oferta de mercado. Pode caracterizar-se como um mercado em que há um pequeno número de empresas, como a indústria automobilística, ou então onde há um grande número de empresas, mas poucas dominam o mercado, como a indústria de bebidas.
O setor produtivo no Brasil é altamente oligopolizado, sendo possível encontrar inúmeros exemplos: montadoras de veículos, setor de cosméticos, indústria de papel, indústria farmacêutica etc.
Nos oligopólios, tanto as quantidades ofertadas quanto os preços são fixados entre as empresas por meio de cartéis. O cartel é uma organização formal ou informal de produtores dentro de um setor que determina a política de preços para todas as empresas que a ele pertencem.
Podemos caracterizar também tanto oligopólios com produtos diferenciados (como a indústria automobilística) como oligopólios com produtos homogêneos (alumínio).

CONCORRÊNCIA MONOPOLISTA
Trata-se de uma estrutura de mercado intermediária entre a concorrência perfeita e o monopólio, mas que não se confunde com o oligopólio, pelas seguintes características:
Número relativamente grande de empresas com certo poder concorrencial, porém com segmentos de mercados e produtos diferenciados, seja por características físicas, embalagem ou prestação de serviços complementares (pós-venda).
Margem de manobra para fixação dos preços não muito ampla, uma vez que existem produtos substitutos no mercado.
Essas características acabam dando um pequeno poder monopolista sobre o preço de seu produto, embora o mercado seja competitivo (daí o nome concorrência monopolista).
É um modelo mais realista que o de concorrência perfeita, que supõe produtos completamente homogêneos, idênticos, sem diferenciação.
A diferenciação dá-se via:
• Características físicas {composição química / potência;
• Embalagem;
• Promoção de vendas {propaganda, atendimento, brindes;
• Manutenção, atendimento pós-venda, etc.


ESTRUTURA DO MERCADO DE FATORES DE PRODUÇÃO
Concorrência Perfeita no mercado de fatores
É um mercado onde existe oferta abundante do fator de produção (por exemplo, Mão de obra não especializada), o que torna o preço desse fator constante. Os ofertantes ou fornecedores, como são em grande número, não têm condições de obter preços mais elevados por seus serviços.
Monopsônio
Trata-se de uma forma de mercado na qual há somente um comprador para muitos vendedores dos serviços dos insumos.
É o caso da empresa que se instala em uma determinada cidade do interior e, por ser a única, torna-se demandante exclusiva da mão de obra local e das cidades próximas, tendo para si a totalidade da oferta de mão de obra.

Oligopsônio
Existem poucos compradores que dominam o mercado para muitos vendedores. Exemplo: indústria de laticínios. Em cada cidade existem dois ou três laticínios que adquirem a maior parte do leite dos inúmeros produtores rurais locais.
A indústria automobilística, além de oligopolista no mercado de bens e serviços, também é oligopsonista na compra de autopeças.
Monopólio bilateral
Ocorre quando um monopsonista, na compra de um fator de produção, defronta-se com um monopolista na venda deste fator. Por exemplo, só a empresa “A” compra um tipo de aço que é produzido apenas pela siderúrgica “B”. A empresa “A” é monopsonista, porque só ela compra esse tipo de aço, e a siderúrgica B é monopolista, porque só ela vende este tipo de aço.
Nesses casos, a determinação dos preços de mercado dependerá não só de fatores econômicos, mas do poder de barganha de ambos: o monopsonista tentando pagar o preço mais baixo (usando a força de ser o único comprador), e o monopolista tentando vender por um preço mais elevado (usando o poder de ser o único fornecedor).

Economia Direito x Economia

DIREITO X ECONOMIA
A globalização é um fenômeno que tem economistas e profissionais do direito como alguns dos seus principais atores;
• É um processo caracterizado pela integração econômica internacional e que, é cada vez mais regulamentado e dependente de contratos.
• “Enquanto a eficiência constitui-se no problema fundamental dos economistas, a justiça é a preocupação que norteia os homens do direito”.

DIREITO X ECONOMIA
A relação entre direito e economia é um dos temas mais atuais da ciência do direito.
• Há duas principais linhas: A primeira sustenta ser a economia e seu funcionamento o paradigma de ação social, apto a alocar as riquezas da forma mais eficiente possível;
• A segunda, bastante difundida entre os juristas, acredita que não existe mercado sem direito.
• É comum admitir a existência de influências recíprocas entre os mundos jurídico e econômico;
• Por exemplo, reconhecer que os agentes econômicos atuam sob restrições colocadas pelo sistema jurídico;
• Ou que há limites à eficácia de certas normas jurídicas, quando se destinam a moldar a conduta dos agentes econômicos ou influenciar o processo econômico.

O estudo da Economia é importante, porquê?
• Os fenômenos de natureza econômica condicionam os fenômenos de natureza sociológica;
• Os fenômenos de natureza econômica condicionam, em parte, os fenômenos de natureza política;
• Ex: Países com rendimentos baixos, mas com recursos naturais, tais como o petróleo, minérios, podem propiciar o aparecimento de governos predadores.

Problemas Econômicos Fundamentais
Os países de baixo rendimento tendem a permanecerem neste grupo?
• Há países que registraram milagres econômico nos últimos 40 anos, quais foram os seus segredos de sucesso?
• Por que um nível de escolaridade médio elevado é importante para o crescimento de um país?
• Por que níveis elevados de inflação são prejudiciais ao crescimento de um país?
• Por que há países que registram sistematicamente taxas de desemprego mais elevadas do que outros países?
• Porque o fenômeno da globalização é uma janela de oportunidades econômicas para um país?

Conceitos de Economia
• Economia é o estudo do método apropriado para alocar os recursos físicos e humanos, escassos entre os fins alternativos;
• Economia é a ciência social que estuda a alocação dos recursos escassos de forma eficiente entre os usos alternativos para a produção de bens e serviços visando a satisfação das necessidades humanas.
• É uma ciência social que estuda como o indivíduo e a sociedade decidem empregar recursos produtivos escassos na produção de bens e serviços, de modo a distribuí-los entre as pessoas e grupos da sociedade, a fim de satisfazer as necessidades humanas.


Fatores de Produção
• Terra – Recursos Naturais;
• Trabalho – Recursos Humanos;
• Capital – Recursos produzidos pelo homem;
“Satisfação das necessidades humanas através da utilização de recursos”.


Elementos do Conceito Econômico:
Bens: Produtos e/ou serviços;
• Consumo – Conceito de escassez
• Escassez é a oferta limitada de bens e serviços desejáveis, que reflete a falta dos recursos produtivos (terra, trabalho e capital);
“Recursos limitados x Necessidades humanas ilimitadas”.
• Necessidades humanas por alimento, abrigo, segurança, moradia etc. que são ilimitadas e se renovam permanentemente.
• Ex: ?!?!?
• Escolha surge pela necessidade de ordenar as necessidades a serem satisfeitas, já que existe escassez de bens e serviços.
Exemplo:
escolha dos bens que irão compor a cesta de mercado (arroz, feijão);
• escolha feita por um produtor ao gastar o capital de giro;
• escolha do governo em abrir financiamento para os setores produtivos (agricultura, aqüicultura, indústria).
• Eficiência nas decisões tomadas pelos agentes econômicos (produtores, consumidores e governo) visando fazer o melhor uso dos fatores de produção, ou seja, buscando maximizar lucro, satisfação e bem-estar social.

Principais Ramos da Economia
Microeconomia
• Macroeconomia
• Economia Positiva
• Economia Normativa

Classificação da Economia
• Microeconomia estuda o comportamento econômico individual de consumidores, firmas, e indústrias, bem como a distribuição da produção e renda entre eles.
• Analisa como a empresa e o consumidor interagem e decidem qual o melhor preço e a quantidade de um determinado bem ou serviço em mercados específicos, portanto o funcionamento da oferta e demanda na formação de preços.

• Macroeconomia trata do comportamento dos agregados macroeconômicos tais como produto nacional bruto (PNB), o nível de emprego, inflação, câmbio e os vários setores da economia tomados de forma agregada.

PNB e PIB
"Produto Nacional Bruto", é a expressão em valor monetário de todos os bens e serviços produzidos com recursos de um país, empregados dentro ou fora do território nacional, pertencentes a pessoas ou empresas.
Ao contrário do PIB, inclui o resultado de empresas no exterior e desconta os investimentos de capital estrangeiro dentro do território nacional.
Na prática, a diferença entre PIB e PNB representa o tamanho da renda enviada ao exterior ou recebida dele.


Economia Positiva versus Economia Normativa
Microeconomia versus Macroeconomia

• A relação entre a Micro e a Macroeconomia
– A Microeconomia é a base da análise macroeconômica


Economia Positiva versus Economia Normativa
Economia Positiva:
• É aquela que está preocupada com “o que é”, ou seja, é baseada em fatos.
• Esta parte da economia procura oferecer um sistema de generalizações que podem ser usados para fazer previsões corretas sobre as conseqüências das decisões.
Estuda o que são as relações econômicas ou como são de fato solucionados os problemas econômicos com os quais uma sociedade se defronta.
Economia Normativa:
Trata do “o que fazer” ou o que “deve ser feito”, e está relacionado com os valores morais, éticos e as preferências sociais.
Estuda a economia como deveria ser, ou como deveriam ser solucionados os problemas econômicos com os quais uma sociedade se defronta.

Os 3 Problemas Fundamentais da Economia
• O que e quanto?
• Este é o problema que consiste em determinar os desejos e necessidades das comunidades; quais são aquelas mais importantes, e em que grau devem ser satisfeita.
• Quem vai produzir e como produzir?
• Consiste em determinar por quem os bens e serviços serão produzidos, com que recursos e qual a tecnologia empregada, ou seja, a forma de combinar os fatores de produção.
• Para quem produzir?
• A distribuição do produto ocorre simultaneamente à decisão do que produzir e organização da produção. Indivíduos com renda elevada obtém maior parcela do produto.
• Alguém discorda?!?!?

Sistemas Econômicos
• É a forma de organização econômica de uma sociedade que tem por objetivo dar uma resposta às questões fundamentais da economia.
• Um sistema econômico será julgado de acordo com sua capacidade para produzir o maior “padrão-de-vida” que os recursos e a tecnologia podem produzir.


Os sistemas econômicos que serão estudados são:
• Economia de mercado (descentralizada ou competitiva);
• Economia planejada (centralizada);
• Economia mista.

Economia de Mercado
• Economia de livre iniciativa, onde os recursos são de propriedade privada;
• Existem muitos compradores e vendedores, tornando o mercado impessoal;
• Inexistência de intervenção governamental, atuando apenas como agente normativo e fiscalizador;
• Os preços são determinados pela interação das forças de oferta e demanda;
• A economia é voltada para o consumidor, onde ele “vota” através do preço, portanto o preço sinaliza as preferências dos consumidores.
• Prioriza os objetivos econômicos, ao invés dos objetivos sociais;
• Pode levar a exclusão das pessoas do mercado;
• Pode gerar injustiça social;
• Ausência de restrição à liberdade econômica, propriedade privada individual e societária; busca de benefício privado máximo pelos agentes individuais;
• Resumindo: Sistema capitalista, ou economia de mercado, é aquele regido pelas forças de mercado, predominando a livre iniciativa e a propriedade privada dos fatores de produção.


Economia Planejada
• Uma autoridade central é responsável pelas decisões do que, quanto, como e para quem produzir;
• Os preços são apenas informações contábeis que facilita o controle da eficiência produtiva;
• O planejador central decide quais setores são prioritários para a economia do país, podendo fechar indústrias eficientes e manter indústrias ineficientes;
• Os meios de produção (máquinas, terra, barcos etc.) são propriedade do estado e propriedade coletiva;
• Os meios de sobrevivência (roupas, automóveis, eletrodomésticos) pertencem aos indivíduos, enquanto as residências pertencem ao estado.
• Pode acarretar ineficiência econômica quanto à alocação dos recursos produtivos;
• Pode gerar ineficiência administrativa (corrupção, formação de grupos de interesse);
• Amplas restrições às variadas formas de liberdade de ocupação, do empreendimento, de dispêndio e de acumulação; busca do bem comum: o solidarismo e a cooperação em substituição a competição;
• Resumindo: Sistema socialista ou economia centralizada, ou ainda economia planificada, é aquele em que as questões econômicas fundamentais são resolvidas por um órgão central de planejamento, predominando a propriedade pública dos fatores de produção.

Economia Mista
• Combinação dos dois sistemas econômicos, mercado e planejado;
• As decisões sobre moradia, infra-estrutura, e serviços públicos são tomadas pelo governo;
• O governo pode ter participação em ações de empresas que considere importante do ponto de vista estratégico tais como siderurgia, comunicação, companhia elétrica, petróleo.
• O governo tenta coibir abusos de poder econômico através das leis e fiscalização.
• Restrições seletivas a liberdade dos agentes econômicos;
• Introdução do conceito de liberdades sociais; submissão do interesse individual privado ao interesse social;


Sistema Econômico Simplificado
Os agentes econômicos participantes do sistema são:
• Firmas: são as entidades produtoras de bens e serviços.
• Para efetuar suas atividades produtivas, as firmas compram os serviços de fatores de produção (terra, trabalho e capital), pagando por elas remunerações. Numa economia de mercado o objetivo da firma é obter lucro.
• Famílias: são as entidades que fornecem os serviços dos fatores de produção às firmas, recebendo em troca uma remuneração pelo uso.
• Seu objetivo é maximizar satisfação.



O sistema econômico possui fluxos físicos e monetários:
1. Fluxos físicos:
(1) Fluxo de bens e serviços;
(2) Fluxo de fatores de produção.
2. Fluxos monetários:
(3) Receitas da firmas;
(4) Renda das famílias.



Os mercados no sistema econômico podem ser classificados em:
• Mercado de bens e serviços: corresponde à parte superior do diagrama, onde os consumidores são as famílias e os produtores são as firmas.
• Mercado de fatores de produção: corresponde à parte inferior, onde as empresas são os consumidores de recursos e as famílias são os detentores dos recursos.


Curva de Possibilidades de Produção (ou curva de transformação).
• É um conceito teórico com o qual se ilustra, como a questão da escassez impõe um limite à capacidade produtiva de uma sociedade, que terá que fazer escolhas entre alternativas de produção.
• Devido à escassez de recursos, a produção total de um país tem um limite máximo, onde todos os recursos disponíveis estão empregados.

Alocação de Recursos Escassos na Economia
• Com a escassez de recursos para produção, impõe-se uma escolha quanto aos bens a serem produzidos. Portanto, a economia é uma ciência também ligada aos problemas de escolha (tomada de decisão racional).
Vamos testar a alocação de recursos através de um problema:
• Suponha, que somente dois bens econômicos deverão ser produzidos na economia: camarão e tilápia.
A economia vai funcionar de acordo com as seguintes suposições
:
• Os recursos são limitados;
• A economia é fechada, portanto não há importação ou exportação de recursos;
• Todos os recursos são aplicados na produção (pleno emprego dos recursos);
• Inexistência de inovação tecnológica.
Dada a disponibilidade dos recursos, as possibilidades de produção de tilápia e camarão são as seguintes:
• Aplicando todos os recursos somente na produção de camarão resultará na quantidade máxima de camarão e zero de tilápia;
• Aplicando todos os recursos somente na produção de tilápia resultará na quantidade máxima de tilápia e zero de camarão;
• Distribuindo os recursos em ambos resultará na produção de tilápia e camarão, cujas quantidades dependerá dos recursos produtivos da economia e do nível tecnológico.

Alocação de Recursos Escasso na Economia
A Curva de Possibilidade de Produção (CPP) ou curva de transformação é formada pela união dos pontos que representam a combinação de níveis de produção de camarão e tilápia.
• A CPP representa a combinação de camarão e tilápia que podem ser produzidos com os recursos disponíveis.
• Pontos no interior da CPP implica em níveis de produção possíveis, mas resultando em ociosidade de recursos produtivos.
• Pontos no exterior da CPP implica em níveis de produção inatingíveis pela economia, ou seja, não existem recursos produtivos suficientes.


Deslocamento da Curva de Possibilidade de Produção
Isso pode ocorrer fundamentalmente tanto em função do aumento da quantidade física de fatores de produção quanto em função de melhor aproveitamento dos recursos já existentes, o que pode ocorrer com o progresso tecnológico, maior eficiência produtiva e organizacional das empresas e melhoria no grau de qualificação da mão-de-obra.
• A curva de transformação sofrerá deslocamento de acordo com a disponibilidade dos fatores de produção:
• Deslocamento para a direita significa um aumento na disponibilidade de recursos produtivos da economia ou pelo uso de um melhor nível tecnológico.
• Deslocamento para esquerda significa uma redução na disponibilidade de recursos produtivos da economia.


Alocação de Recursos Escasso na Economia
Custo de Oportunidade de um recurso é quanto se perde ou deixa de ganhar, por não utilizar o recurso no seu melhor uso alternativo.
• O custo de oportunidade surge porque numa economia em pleno emprego precisa-se sempre, ao aumentar a produção de bem, desistir de produzir um tanto de outro bem.
As condições básicas para a existência do custo de oportunidade são:
recursos limitado e pleno emprego dos recursos.
• O custo de oportunidade será calculado comparando o valor total da produção (VTP) entre dois pontos sobre a CPP.
• Ou seja, comparando a soma do valor da produção dos dois bens com base nos seus preços de mercado.
• O custo de oportunidade (perda) acontecerá se o valor total da produção de bens for menor do que o valor da produção da melhor alternativa.
• O custo de oportunidade na melhor alternativa será igual a zero.
• Exemplo: Considere dois pontos sobre a CPP, C e D, qual o custo de oportunidade de se produzir no ponto D? Assuma que os preços do camarão e tilápia são, respectivamente, 10 e 4.
• VTP[C] = Pt*Qt + Pc*Qc
• VTP[C] = 4*30 + 10*90 = 120 + 900 = 1020
• VTP[D] = Pt*Qt + Pc*Qc
• VTP[D] = 4*40 + 10*70 = 160 + 700 = 860
• VTP[C] > VTP[D]
• CO [D] = VTP[C] - VTP[D] = 1020 – 860 = 160
• Sendo o ponto C a melhor alternativa (maior VTP), o Custo de Oportunidade de se aplicar os recursos no ponto D é 160. Isto é, deixamos de ganhar 160 por aplicar os recursos na segunda melhor alternativa.

A DESCOBERTA DA AMÉRICA E A QUESTÃO DA ALTERIDADE


A ANTROPOLOGIA E O OUTRO

Antropologia é o estudo do homem tomado em toda a sua diversidade, analisando suas diferentes culturas onde quase nada é natural no ser humano.
Ex: A forma de agir com base na cultura (comer arroz com feijão é cultural e não natural)
Todo antropólogo deve tornar exótico o que é familiar e tornar familiar aquilo que é exótico. No primeiro caso, é necessário diferenciar; no segundo, é necessário colocar-se no lugar de outrem. Deve também, o antropólogo, entender que nada é natural.

A DESCOBERTA DA AMÉRICA

É através da descoberta que surge uma preocupação antropológica em relação à alteridade (qualidade daquele que é outro). E, assim, surge a idéia de que o “mundo é maior”, metaforicamente significa que o mundo conhecido aumenta de tamanho. Também ocorre uma alteração européia na percepção de si e do outro.

POSSÍVEIS INTERPRETAÇÕES

O Requerimento, escrito por Palácios Rúbios em 1514, dava um amparo legal à conquista da América, dizendo que as terras pertenciam aos espanhóis.
Em 1550, na Espanha, ocorreu um debate entre o jurista e filosofo Gines de Sepúlveda e o padre dominicano Bartolome de Las Casas em torno da escravidão indígena.
Gines de Sepúlveda pregava a Teoria da Desigualdade (recusa do estranho) entre indígenas e europeus com ideais aristotélicos, dentre eles:
· Uns nascem para governar e outros nascem para serem governados;
· Falta a razão para uma parte da humanidade;
· O estado natural da sociedade humana é a hierarquia (inferioridade vs. superioridade).

Já a corrente da Teoria da Igualdade (fascinação em relação ao estranho), defendida por Bartolome de Las Casas, era fundamentada por ideais da doutrina cristã que diferenciava o crente do não-crente. O índio deveriam ser catequizados por não serem considerados crentes.
Assim, concluímos que ambos consideravam o índio como ser inferior, já que para Gines de Sepúlveda havia uma inferioridade intransponível, ou seja, não há uma mobilidade; e para Bartolome de Las Casas as circunstancias fizeram o índio como inferior (inferioridade circunstancial).
As pessoas hoje vêem a diferença como desigualdade. A antropologia existe para se opor a isso.





AS TRANSFORMAÇÕES DA EUROPA

O SÉCULO XVIII

Nesse período, Laplatini desenvolveu um projeto de conhecimento do homem (Projeto Positivo) com base em 2 itens da existência empírica do homem:
1. Alteração da natureza dos objetos observados de natureza cosmográfica e posteriormente dos objetos etnográficos, ou seja, ao invés de descrições da fauna e flora das novas terras, os colonizadores usavam da interpretação e análise do homem nativo;
2. O modo de estudar o ser humano, daí surge os Gabinetes de Curiosidades (coleção de objetos do novo mundo).

Durante o século XVIII, os indígenas eram vistos pelos europeus como selvagens.

O SÉCULO XIX

É nessa época que surge a antropologia como ciência, devido à Revolução Industrial e a Conferência de Berlim.
Na Revolução Industrial, os europeus foram em busca de matéria prima (algodão) em diversos lugares. E na Conferência de Berlim, os europeus visavam acabar com a soberania da África.

O Evolucionismo

Foi a 1ª corrente do pensamento antropológico, que foi representada por Lewis Morgan, James Frazer e Edward Tylor.
Para Lewis Morgan, criador da Teoria sobre a História da Humanidade, os povos deveriam passar por 3 etapas: selvageria, barbárie e civilização.
James Frazer escreveu o livro mais importante do evolucionismo (“O Ramo de Ouro”). Tal obra pregava que haveria evolução dos povos que começariam pela magia, passava pela religião e findava na ciência.
E Edward Tylor escreveu o primeiro conceito de cultura.

Nessa época, a antropologia é uma ciência que estuda as sociedades “primitivas” em todas as suas dimensões (política, religião, moral, etc.). Seria também uma ciência que estuda a origem a humanidade

Pontos de vista dos evolucionistas

·
Admitir uma unidade da espécie humana, ou seja, todos são seres humanos. Enquanto, no século XVIII, os indígenas eram considerados como meros selvagens, no século XIX, os índios eram considerados seres primitivos (poderiam evoluir);
· A espécie humana se desenvolve em ritmos desiguais, mas todos os povos têm que passar pelos mesmos estágios: selvageria, barbárie e civilização;
· Leis universais do desenvolvimento da humanidade;
· Vestígios do passado europeu;
· Estudos extensivos.

A Teoria das Espécies, de Charles Darwin foi distorcida para explicar a origem da cultura.

Problemas do evolucionismo

Os autores mediam o “atraso” com base em critérios ocidentais (que são usados até os dias atuais), que eram fatores econômicos e fatores tecnológicos. Esses fatores favoreciam os países da Europa.
Também iria servir como fundamentação teórica para o colonialismo. Havia um programa de poder e dominação dos povos que era conhecê-los, para posteriormente dominá-los.
As classificações etnocêntricas pregam que o progresso depende dos valores de quem observa. À época, os europeus eram muito etnocêntricos.
Claude Levi-Strauss, em 1952, escreveu uma crítica sobre a teoria evolucionista em um artigo da UNESCO, na qual comparava as culturas com trens. Cada cultura é um trem, que vai em direções diferentes. As culturas não se desenvolvem em linha reta. Segundo Levi-Strauss, as culturas caminham como o movimento do cavalo no xadrez.

O EVOLUCIONISMO E A ANTROPOLOGIA

O CONCEITO DE CULTURA DOS EVOLUCIONISTAS

Edward Tylor (1832 – 1917), em seu livro “A cultura primitiva”, define cultura, segundo os evolucionistas: “A cultura, tomado em seu amplo sentido etnográfico é este todo complexo que inclui conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, costumes ou qualquer outra capacidade ou hábitos adquiridos pelo homem como membro de uma sociedade”.

O termo “cultura” de Tyler está no singular. Ou seja, ele considera cultura e não culturas. Para os evolucionistas, há somente uma cultura. Só que os povos passam pela mesma cultura em diferentes épocas.

Na Idade Média, o tempo era visto de forma circular (estações do ano). Porém, no século XIX, isso muda. O tempo, agora, era visto de forma linear. São as características da visão do tempo linear:
1. Irreversibilidade do tempo;
2. Incerteza;
3. Ritmo inconstante.

O método em que os evolucionistas baseavam-se era o método comparativo, que baseava-se no raciocínio dedutivo, ou seja, parte do geral para o que é particular. Tinha como fundamento tirar os objetos, os costumes do seu contexto e reorganizar esses objetos em uma linha evolutiva, na qual o objeto europeu era o mais importante.
Assim, havia um lado positivo e outro negativo a respeito de tal teoria.



FRANZ BOAS E A ESCOLA CULTURAL AMERICANA


Franz Uri Boas, alemão, com graduação e doutorado em Física, criou a Escola Cultural Americana (Culturalismo) que criticavam os evolucionistas. Suas idéias eram baseadas na variação da cor da água: “Assim como a água, que mudavam de cor conforme o ângulo avaliado, as culturas também variam. Era necessário aproximar de uma cultura para perceber como é”.
Teve sua primeira pesquisa feita na Ilha de Baffin (Canadá) pesquisando os esquimós da tribo Inuits.
Uri Boas critica os arranjos dos museus. Para ele o objeto precisa ser colocado no seu contexto cultural, caso contrario não terá sentido.

Pontos do Raciocínio de Boas

· Para Boas, o que existem são várias culturas e não apenas uma cultura;
· Cria um novo método, o método histórico, que tinha como base o raciocínio indutivo (parte do que é particular para o geral):
1°) estudar uma cultura detalhadamente;
2°) relacionar essas culturas com as que são geograficamente próximas;
3°) só então, se possível, as generalizações são feitas.

· Para Boas era necessário observar todos os detalhes em uma cultura;
· Cabe ao antropólogo ir a campo. É com Boas que o pesquisador e o viajante se unem formando apenas uma pessoa;
· Ao estudar uma cultura, é necessário o aprendizado da língua do povo.


MALINOVSKI – O FUNCIONALISMO

Bronislaw Malinovski, polonês, estudioso em Física e Matemática e escritor da obra “Os argonautas do pacífico ocidental”, viajou as Ilhas Trobriand, na Austrália para estudos. Fundou a corrente do funcionalismo.
Criou o método antropológico de observação participante, onde não é necessário apenas observar, mas também participar. Esse método pregava que, para entender determinada cultura de um povo:
· Temos que entendê-lo através dos próprios conceitos desse povo;
· Basta um único costume, hábito que, se representativo, ajudará ao antropólogo entender a cultura;
· Devemos observar os acontecimentos aparentemente banais.



Idéias Não Aceitas

· Achava que as sociedades “simples” seriam sociedades estáveis e sem conflito.
Em contrapartida, toda sociedade muda (lento ou rápido) e não há sociedades sem conflitos.

· Pregava que as funções das Instituições eram de satisfazer necessidades.
Mas nossas necessidades são culturais, e não somente biológicas. Mesmo nossas necessidades biológicas, como a alimentação, são culturais.

O QUE É ANTROPOLOGIA?

A IDA AO CAMPO


Existe o problema da comunicação (como e o que falar), pois os povos geralmente, ao serem pesquisados, mudam seu habito e assim não conseguimos criar métodos de estudos eficientes em laboratório. Para que a pesquisa seja eficiente, é necessário que se leve em consideração os problemas do campo.

O ESTUDO DO INFINITAMENTE PEQUENO E COTIDIANO

É a forma se separar a antropologia da sociologia.
A sociologia estuda mais as tendências das grandes associações, e, a antropologia estuda mais as tendências de grupos marginais.

O ESTUDO DA TOTALIDADE

A antropologia, ao tentar observar o infinitivamente cotidiano, estudará em sua totalidade.
Marcel Mauss, sobrinho de Durkein, cria o conceito do fato social total.
Um fato social estuda apenas os acontecimentos exteriores, coercitivos e gerais. Ex.: crime.
Já um fato social total abrange várias dimensões da vida social. Essas dimensões podem ser de origem econômica, política, religiosa, estética, dentre outras.

A ANÁLISE COMPARATIVA

Baseadas em 3 etapas do estudo antropológico:

· Etnografia: coleta de dados;
· Etnologia: análise dos dados colhidos;
· Antropologia: estudar as variações das lógicas culturais.
Ex.: a questão do preconceito, primeiro estuda-se no Brasil, depois faz um estudo nos EUA, para à partir desses estudos se verificar as lógicas do preconceito. Assim, conclui-se que o preconceito no Brasil, que tem origem financeira, é diferente do preconceito norte-americano, que independe do financeiro.



Diferenças


Evolucionistas
Antropologia
Método
comparativo
observação participante (Malinovski)
Objeto
sociedades primitivas
todos os indivíduos
Contexto
costumes tirados do contextos e colocados numa linha evolutiva
variação das lógicas culturais

A QUESTÃO DO DENTRO E DO FORA

· Dentro: internalizar a cultura;
· Fora: como não é necessário apenas o “dentro”, há a necessidade de reproduzir a fala do nativo, mas com uma certa distância para uma análise correta.


OS DETERMINISMOS E A CULTURA

DETERMINISMO BIOLÓGICO

Na biologia pura, em si, as diferenças culturais seriam diferenciadas das culturas genéticas. Mas a antropologia mostra que as diferenças genéticas não determinam as diferenças culturais.
Ex.: a divisão sexual do trabalho não é dada pela genética, e sim pela cultura, como o exercito israelense, onde não é permitido mulheres devido à falta de força física.

DETERMINISMO GEOGRÁFICO

As culturas seriam diferenciadas pela geografia, mas, pela antropologia, existem limites de influência geográfica sobre a cultura.
Ex.: judeus e muçulmanos não se alimentam com carne de porco, por preservarem.


TEORIAS SOBRE O SURGIMENTO DA CULTURA

1. Bipedismo: o homem torna-se um ser cultural quando se torna bípede (libera as mãos para criar e manipular instrumentos para criação da cultura).
2. Cérebro Volumoso: aumenta-se a capacidade de raciocínio.
3. Leslie White: o homem começa a ser capaz de criar símbolos.
4. Claude Levi-Strauss: em todas as sociedades existe o tabu do incesto.


O CONCEITO DE CULTURA

O HOMEM, O INSTINTO E A CULTURA

Só o homem que produz cultura, que nos separa dos outros animais.
Só o homem acumula experiências e as transmite de uma geração para outra.
Só o homem que renova e transforma o comportamento. Os animais mudam o comportamento ao meio mudar e o homem interagem com o meio.
O homem é mais, e não somente, levado pela cultura do que pelos instintos, que são abafados pela nossa cultural, na maioria das vezes.

Entre as páginas 51 a 53 do livro “Cultura: um conceito antropológico” fala sobre os mais diversos instintos.

Como falar em instinto materno, quando sabemos que o infanticídio é um fato muito comum entre diversos grupos humanos? Tomemos o exemplo das mulheres Tapirape, tribo Tupi do Norte do Mato Grosso, que desconheciam quaisquer técnicas anticoncepcionais ou abortivas e eram obrigadas, por crenças religiosas, a matarem todos os filhos após o terceiro. Tal atitude era considerada normal e não criava nenhum sentimento de culpa entre as praticantes do infanticídio.
Como falar em instinto filial, quando sabemos que os esquimós conduziam os seus velhos pais para as planícies geladas para serem devorados pelos ursos? Assim fazendo, acreditavam que o mesmo seria reincorporado na tribo quando o urso fosse abatido e devorado pela comunidade.
Como falar em instinto sexual? Muitos do os casos conhecidos de adolescentes, crescidos em contextos puritanos, que desconheciam completamente como agir em relação aos membros do outro sexo, simplesmente por que não tiveram possibilidade de presenciar nenhum ato sexual e ninguém os ter esclarecido sobre tais atitudes.
Concluindo, tudo que o homem faz, aprendeu com os seus semelhantes e não decorre de imposições originadas fora da cultura. (A este respeito, consulte o nosso Anexo l – “Uma experiência absurda”.).

CARACTERÍSTICAS DA CULTURA

Todas as culturas possuem características simbólicas, sociais, dinâmicas e estáveis, seletiva.

· Simbólica: todas são constituídas por um conjunto de significados sistematizados e transmitidos através de símbolos e sinais, ou seja, pela linguagem.
Ex.: o símbolo do estacionamento permitido, as marcas.

· Social: porque é socialmente partilhada ideologicamente.
Ex.: idéias partilhadas em uma sala quanto à função de professor.

· Dinâmica e Estável: são dinâmicas porque estão sempre modificando, e estáveis por estarem dentro de um determinado período, vivemos em um determinado padrão.

· Seletiva: porque as culturas selecionam do meio o padrão que querem para si. Inconscientemente as culturas escolhem padrões.
Ex.: as culturas poliandras, que permitem um homem para várias mulheres, não é aceito no Brasil; o homossexualismo, que é aceito em parte da Europa, não é aceito no Brasil.


A cultura é determinante e determinada. Determinante, pois ela que determina nosso comportamento. Determinada, porque modificamos a cultura.
Ex.: ser mulher na década de 20 é diferente de ser mulher atualmente.


CONCLUSÕES

Podemos concluir então que a cultura, muito mais que a herança genética, é que determina o comportamento do homem.
O homem é mais movido pela cultura que pelos instintos.
Tudo isso ocorre porque o homem, diferentemente dos outros animais, interagem com o meio.
A cultura é um processo cumulativo (acumular experiências), ou seja, está sempre mudando.


VOCÊ SABE COM QUEM ESTÁ FALANDO?

É um aprendizado latente, ou seja, uma maneira velada de mostrar preconceito. Roberto da Matta diz que o aprendizado latente é um aprendizado escamoteado, encoberto.
Não é possível precisar o início.


É UM RITO AUTORITÁRIO

O
“você sabe com quem está falando” é uma forma autoritária de resolver conflitos (mostra problemas no sistema).
Segundo Roberto da Matta, o brasileiro não aceita a existência de conflitos, pois acha-se que o conflito é uma revolta social. Vemos o conflito como pressagio de fim do mundo.


QUEM USA

Costumam-se usar a frase “você sabe com quem está falando” para humilhação.

HIERARQUIA NO BRASIL

Roberto da Matta diz que a hierarquia no Brasil baseia-se na intimidade social, ou seja, não é uma hierarquia pura e simples, baseada em um único eixo (ex.: eixo econômico).
É baseada em um sistema de relações entrecortadas (ex.: eixo moral vs. eixo econômico).

Identificação Social Vertical: significa que não nos identificamos à pessoas semelhantes, e sim com quem está em condição superior.
Ex.: “pobre, mas limpinho”.

Uma vez que todos se identificam com quem está acima (identificação social vertical), nada muda. E segundo Roberto da Matta, tal fato impede a tomada de consciência horizontal; no Brasil, não são formadas éticas horizontais, ou seja, não há união com os economicamente semelhantes.
Sobre as relações entrecortadas, Roberto da Matta diz que de um lado equaliza as diferenças, do outro, há a diferenciação sistemática das diferenças (ética horizontal).


DRAMATIZAÇÃO DA VIDA SOCIAL

O
“você sabe com quem está falando” é considerado para da Matta, uma dramatização da vida social, ou seja, uma resolução de problemas com dramaticidade.
Tal frase é usada em 3 situações:

1. Papel universal vs. Identidade social com autoridade delegada;
Ocorre o papel universal quando as leis são as mesmas para todos (motorista, cidadãos);
A identidade social com autoridade delegada ocorre quando há uma pessoa, cuja profissão delega certa autoridade (policial).

2. Quando 2 pessoas tentam se contrapor, mas resolvem de forma civilizada (igualdade);
3. Há o uso positivo da frase, quando desejam restaurar a ordem quebrada.

BRASIL vs. EUA

Roberto da Matta compara a socialização no Brasil e nos Estados Unidos e notou a diferença entre as 2.
No Brasil, somos socializados a não perguntar, pois a socialização faz parte de uma agressão. E nos Estados Unidos as pessoas são socializadas a não dizer “não sei”.
Para da Matta,
“você sabe com quem está falando” no Brasil está atrelado à um rito ordinário; o oposto ocorre nos Estados Unidos, que “você sabe com quem está falando” é um rito igualitário.

INDIVÍDUO vs. PESSOA

O individuo é aquele que é fruto das suas escolhas. E as pessoas possuem um papel pré-estabelecido.
Para que o individuo exista, é necessário: a liberdade de escolha, igualdade e o fruto das suas escolhas.
O “você sabe com quem está falando” permite ir do anonimato ao conhecido.
Segundo Roberto da Matta, em algumas sociedades predomina o individuo, em outras predominam a pessoa.
Hoje em dia predomina o conceito de individuo. Mas, no Brasil, ora agimos como indivíduo, ora como pessoa (misto), pois “indivíduo” possui uma conotação negativa, é uma pessoa má vista porque não se insere em grupo algum.

LEIS NO BRASIL

A Lei ordena o mundo com indivíduos, e, no Brasil, não desejam ser indivíduos porque a conotação é negativa.
Os brasileiros não aceitam a igualdade da Lei, e, assim, usam a frase “você sabe com quem está falando”.
Para da Matta, no Brasil existe a teoria do Universo das Relações, na qual tentam fugir da igualdade.


CIDADANIA NO BRASIL

É NATURAL SER CIDADÃO?

??


CIDADANIA NO BRASIL

Ser cidadão no Brasil é ser um igual para baixo, ou seja, é igualado para depois ser inferiorizado.
É considerado cidadão aqueles que não possuem condições; e no Brasil, há uma ausência de relações perante a cidadania.
Também, a palavra “cidadão” é usada de forma negativa.
Roberto da Matta considera indivíduos os alunos públicos, os detentos, as pessoas que enfrentam filas, etc.


O JEITINHO BRASILEIRO

O QUE É


Lívia Barbosa entrevistou cerca de 200 pessoas no Brasil e chegou a conclusão que o jeitinho é um jeito especial de resolução dos problemas, das situações difíceis e proibidas.
Ex.: pede-se a outrem dar um jeitinho de consertar um objeto.

O jeitinho é ambíguo, ou seja, possui vários sentidos. Ora aparece como favor (vista de forma positiva), ora como corrupção (vista de forma negativa).


FAVOR vs. JEITINHO vs. CORRUPÇÃO

O jeitinho é difícil de compreender porque é ambíguo.

Favor vs. Jeitinho

FAVOR
JETINHO
Estabelece entre as pessoas participantes uma relação hierárquica, pois se usa quando se precisa muito. Como o favor é solicitado a conhecidos, sempre existirá um sentimento de divida com o outro.
Estabelece entre as pessoas participantes uma relação igualitária, pois se usa termos que irão igualar as pessoas desconhecidas, como chapa e camarada.
É formal, sério, particular.
É informal.
Não envolve transgressão de regras ou normas.
Envolve transgressão de regras ou normas.

Jeitinho vs. Corrupção

Uma vez que ambos envolvem valores monetários, a diferença primordial entre ambos dá-se pela quantidade do valor. No jeitinho, envolve-se valores baixos, o inverso ocorre na corrupção.
QUANDO USAR

É fortemente usado em situações burocráticas.

O QUE MAIS INFLUI

São 3 os elementos mais influentes no jeitinho:


1. O modo de pedir: humilde, cordial, simpático;
2. O sexo dos envolvidos: pessoas do sexo oposto têm mais possibilidade de se conseguir, na qual a probabilidade de um homem ajudar a uma mulher é superior em relação ao inverso; sendo ambas as mulheres, a probabilidade de ajuda é nula.
3. Roupas, status, dinheiro: caso não os tenham, passará a não ter importância aos demais.


COMO SER EFICAZ

· Chorar miséria, ou seja, envolver emocionalmente o outro;
· Compartilhas os problemas;
· Individualizar o sistema, e não humanizar.

O JEITO E AS LEIS

No Brasil o que vale é a relação (camaradagem, amizade, etc.).
O brasileiro normalmente usa o jeitinho para resolver problemas de origem burocrática (rígida, ineficaz, não dando margem para o bom senso).

O JEITINHO BRASILEIRO vs. VOCÊ SABE COM QUEM ESTÁ FALANDO?

É mais fácil começar do jeitinho e passar, posteriormente usar o você sabe com quem está falando.
No Brasil, as pessoas, no geral, não adotam nenhum especifico, mas adotam ambos, ou seja, as escolhas são relativas e não absolutas. Por isso, o Brasil é complexo.



JEITINHO
VOCÊ SABE COM QUEM ESTÁ FALANDO?
DO PONTO DE VISTA DOS ENVOLVIDOS

Ritual de aglutinação para estabelecer um elo com a pessoa para estabelecer o jeitinho.
Ritual de separação porque tento, com a frase, me separar.

QUANTO AOS LIMITES DA UTILIZAÇÃO
Não são bem definidos, porque o jeitinho é ambíguo, mal definido (ora favor, ora corrupção).
Limites definidos porque é usado para resolver conflitos de forma hierárquica.
COMO RESOLVEM A SITUAÇÃO
Resolvemos a situação por meio de barganha, de negociação.
Ritual de separação porque tento, com a frase, me separar.

SUA ACEITAÇÃO
Aceito socialmente, pois é visto como parte da identidade nacional.
Não é aceito socialmente, pois é visto como algo antipático.

QUANTO À IDENTIFICAÇÃO
Não uso minhas identidades porque se pede para desconhecidos.
Usa-se a própria identidade.

TIPO DE RECURSO
Recursos individuais, porque tem a ver com cordialidade.
Recursos sociais relevantes.
REAÇÃO
Traz sempre reações positivas porque mesmo que não a ajude, foi humilde, cordial.
Reação sempre negativa porque se deseja sempre o mal.

Antropologia

Antropologia : Antro(homem) - Logia(estudo)

· Visa resolver e inventar soluções para a urbanização, industrialização e pela expansão européia no mundo;
· Desenvolvimento e a expansão proporciona o fortalecimento da antropologia,
· A sociedade desenvolveu-se para melhor compreensão das sociedades européias.
· A antropologia desenvolveu-se para melhor compreensão dos povos colonizados na africa, asia e américas.
· As pesquisas cientificas eram financiadas pelas elites européias com apoio político, em especial ao setor responsável pela administração colonial.

1º Eurocentrismo: tudo girava em torno dos europeus (Existia a necessidade de estudar o não europeu). Durkhein e Tonnies foram os primeiros teóricos.

Evolucionismo: Acreditava que as culturas passavam pelos mesmos estágios, numa mesma linha de evolução social. Durkhein: As espécies sociais erasm determinadas pela divisão do trabalho, por idade e sexo(sociedades mais primitivas) e por tarefas diferenciadas(sociedade mais evoluida). Tonnies: Espécies de formação sociais. Comunidades (relações mais familiares e primitivas) e sociedades(vidas urbanas mais evoluídas). As formações sociais classificadas entre “primitivas” e “complexas”, onde a história seria um processo de transformações primitivas para complexas.

2º Funcionalismo(Malinoviski – Polonês e Redclihe Brown – Ingês): com o funcionalismo a sociedade não européia passaram a ser estudados naquilo que lhe era próprio e específico. Crítica: colaboração dos funcionalistas com a administração colonial, convivência da elite colonizada com os colonizados(parceria); Aculturação e choque cultural sem levar em conta as desigualdades existentes.

Relativismo Cultural: postura de tolerância e respeito em relação aos costumes sociais. Deram pouca importância as transformações sociais. Fizeram muito pouco pela libertação das populações colonizadas e pelo fim das relações de dependencia e exploração a que eram submetidos.

3º Estruturalismo(Claude Levi-Strauss – Belga): Construção teórica capaz de dar sentido aos dados emíricos. Organiza, distribui, relaciona e sustentam todos os elementos observáveis. elementos não aleatórios independentes e estão numa questão de inter-relação. Crítica ao Estrutualismo: da observação funcionalista para a construção teórica e abstrta de um conceito.
Crítica do Estrutualismo ao Evolucionismo: Cada sociedade deve ser analisado em sua especidicidade e não como um estágio de um processo único do desenvolvimento humano.

Etnocentrismo: É uma visão do mundo preconceituoso, usar a nossa cultura para julgar a do outro.

Relativismo: É uma forma de encarar as outras culturas ou as praticas culturais e partir do contestode onde acontecem. entender a lógica da cultura. Oposto do etnocentrismo.
Etnografia: É a descrição detalhada da vida cotidiana de dada cultura ou grupo social baseado num conjunto de técnicas de pesqeuisa antropologica. Observar e descrever a cultura.

Cultura: É um sistema de simbolos e significados e deve ser considerado como um conjunbto de mecanismos de controle, planos, receitas, regras e instruções que os técnicos de computados chamam de “programas” para governar o comportamento.

Etnia: São diferentes culturas existentes em diferentes locais e grupos étnicos.

Raça: Características hereditários que detrerminam um fenótipo deferenciado para cada grupo.

Cor: Como os traços fenotípicos estão marcados “na pele”, determinando que uma pessoa é negra, mulata, branca, amarela..

Sociologia



1 Introdução à Sociologia

1.1 O que é Sociologia

- Para esta análise: leitura dos capítulos 1 e 2 do livro: “MARTINS, Carlos Benedito. O que é sociologia. Ed. Brasiliense: SP, 2008”.

- Surgimento
Disciplina relativamente nova. Surgiu como uma das manifestações do pensamento moderno. A evolução do pensamento científico intenta cobrir uma nova área do conhecimento humano ainda não incorporada ao saber científico, qual seja, o mundo social.
Reinaldo Dias (2005, p. 3) diz que a sociologia surgiu seguramente no século XIX como decorrência da necessidade dos homens de compreender os inúmeros problemas sociais que estavam aparecendo.
Enquanto ciência, a sociologia tinha o objetivo de sistematizar o estudo dos fenômenos sociais em busca de resolução aos problemas sociais. Os sociólogos buscam compreender as diferentes interações entre as pessoas para que possam estabelecer relações de causa e efeito dos diferentes fenômenos sociais e “assim indicar para as organizações públicas e privadas maneiras de atender às necessidades dos indivíduos, buscar os seus direitos, estabelecer os seus deveres ou o que quer que seja para a humanidade como um todo avance em busca de melhor qualidade de vida” (DIAS, idem).
Augusto Comte (positivista): “as sociedades estavam em estado de caos social, era necessário restabelecer a ordem nas idéias e nos conhecimentos”. Comte estabeleceu as bases iniciais do que seria uma ciência social, abriu perspectivas para um novo campo de pesquisa científica o qual se ocupou dos fenômenos sociais.

Surgimento da Sociologia: mudanças provocadas pela revolução científico-tecnológica (Revolução Industrial) iniciada no século XVIII. Influência também da Revolução Francesa de 1789.

Esse surgimento ocorre num contexto histórico específico: nos derradeiros momentos da desagregação da sociedade feudal e da consolidação da sociedade capitalista. (MARTINS, 2007, p. 10). Mudanças profundas no campo social.

As relações entre as pessoas de uma realidade rural (relações pouco complexas) passam a sofrer modificações em função das novas estruturas sociais que se desenvolveram em torno de uma nova realidade industrial complexa.

“(...) em cerca de cem anos, a Europa de sítios, rendeiros e artesãos tornou-se uma Europa de cidades abertamente industriais (...). Os utensílios manuais e os dispositivos mecânicos simples foram substituídos por máquinas, a lojinha do artífice pela fábrica. (...) Os aldeãos, como as suas antigas ocupações se tornavam supérfluas, emigravam para as minas e para as cidades fabris, tornando-se os operários da nova era (...), enquanto uma classe profissional de empreiteiros, financeiros e empresários, de cientistas, inventores e engenheiros se salientava e se expandia rapidamente”.(HENDERSON apud DIAS, 2005, p. 15).

Principais características da Revolução Industrial:

a) Transformação da economia inglesa, que passou de predominantemente agrária a uma economia industrial.

b) Relação patrão x empregado; homem x máquina.


Com o advento da Revolução Industrial, surgem novos papéis sociais, principalmente o empresário capitalista e o de operário.

Com a consolidação industrial se configura um ‘mercado de trabalho’, no qual se vendem as ‘capacidades de trabalho’ (na linguagem de Marx, a alienação da força de trabalho). Os novos trabalhadores industriais têm que empregar disciplinadamente sua força laboral em benefício dos detentores dos meios-de-produção, do local de trabalho, do maquinário e da matéria-prima (os capitalistas).

“o empresário capitalista foi pouco a pouco concentrando as máquinas, as terras e as ferramentas sob o seu controle, convertendo grandes massas humanas em simples trabalhadores despossuídos. Cada avanço com relação à consolidação da sociedade capitalista representava a desintegração, o solapamento de costumes e instituições até então existentes e a introdução de novas formas de organizar a vida social” (MARTINS, 2007, p. 12).

Em decorrência da rápida urbanização, é provocado o aumento de problemas sociais, como ausências de moradia, miséria, precariedade de serviços sanitários e de saúde, prostituição, alcoolismo, suicídios, infanticídios, surtos de violências e de epidemias (cólera, tifo) entre outros.

Características fundamentais das novas formas de organização social:

a) Substituição progressiva do trabalho humano por máquinas

b) A divisão do trabalho e a necessidade de sua coordenação (que resulta no empobrecimento intelectual do empregado e não do aumento da habilidade individual).

c) Mudanças culturais no trabalho (problemas na gestão do fator humano – imposição de disciplina rígida e articulação dos indivíduos isolados);

d) Produção de bens em grande quantidade;

e) Surgimento de novos papéis sociais (empresário X operário). Agora os trabalhadores não vendiam mais os seus produtos, mas sua ‘capacidade de trabalho’.
- Surgimento do proletariado:

Um dos pontos mais significativos dos anos que se seguiram a este estado de coisas foi o surgimento do proletariado, que desempenha um papel histórico essencial ao desenvolvimento da sociedade capitalista.

Os trabalhadores começam a negar suas condições de vida. Passam a se revoltar e destruir máquinas, sabotar oficinas, cometer roubos e crimes, evoluindo para as associações livres, criação de sindicatos, etc. A classe operária começou a organizar-se.


- Todos esses eventos de impacto social profundo colocaram a sociedade num plano de análise. A sociedade passa a se constituir em “problema”, em “objeto” a ser analisado.

Os primeiros homens que se preocuparam com essas transformações não eram homens da ciência (ainda), mas homens que, pela ação, queriam empreender uma mudança (no século XVIII para o XIV: Owen, Willian Thompson, Jeremy Bentham, por exemplos).

A sociologia surge como constituição de um saber sobre a sociedade, ela constitui uma resposta intelectual às novas situações colocadas pela revolução industrial.


- Mudança no pensamento:

Não só as transformações sociais foram importantes no surgimento da sociologia, mas também uma mudança no pensamento:

Renúncia a uma visão sobrenatural para explicar os fatos, substituindo-a por uma indagação racional. Há modificações na forma de se conhecer a natureza e a cultura.
A experimentação e o método científico são aplicados para o conhecimento da natureza (domínio racional da natureza). O progresso nesse campo é intenso, desde Copérnico a Newton.
A crença cede lugar à dúvida metódica a fim de possibilitar um conhecimento objetivo da realidade.

Esse conhecimento deveria ser estendido e aplicado ao estudo da sociedade. Passa-se a buscar leis gerais sobre a sociedade, campo em que deveriam ser evitadas conjecturas e especulações (Ferguson apud Martins, 2007, p. 19).

O método é o empírico e indutivo (baseado no método das ciências da natureza).

Compreensão de uma lógica do processo histórico (Vico, Hegel, Marx).

Alie-se a esses fatos que o iluminismo e a revolução burguesa (1789) questionavam as instituições da época denunciando-as injustas e irracionais, que atentavam contra a natureza dos indivíduos e impediam a liberdade do homem.

Surge uma crescente racionalização da vida social. As instituições começam a ser vistas como produtos da atividade do próprio homem, e não fenômenos sagrados e imutáveis. Sendo produtos do homem, elas podem ser transformadas com a ajuda da filosofia e da sociologia (Marx).

A partir da terceira década do século XIX intensificam-se as crises econômicas e as lutas de classe na sociedade francesa. A burguesia, já no poder, começa a utilizar as instituições estatais para conter o movimento social e a “desordem”. Tornam-se evidentes os motivos da revolução burguesa (em prol da burguesia, que se torna elite).


A Revolução segue seu curso: à medida que vai aparecendo a cabeça do monstro, descobre-se que, após ter destruído as instituições políticas, ela suprime as instituições e muda, em seguida, as leis, os usos, os costumes e até a língua; após ter arruinado a estrutura do governo, mexe nos fundamentos da sociedade e parece querer agredir até Deus; quando essa mesma Revolução expande-se rapidamente por toda a parte com procedimentos desconhecidos, novas táticas, máximas mortíferas, poder espantoso que derruba as barreiras dos impérios, quebra coroas esmaga povos e – coisa estranha – chega ao mesmo tempo ganhá-los para a sua causa; à medida que todas as coisas explodem o ponto de vista muda. O que à primeira vista parecia aos príncipes da Europa e aos estadistas um acidente comum na vida dos povos, tornou-se um fato novo, tão contrário a tudo que aconteceu antes no mundo e no entanto tão geral, tão monstruoso, tão incompreensível que, ao apercebê-lo, o espírito fica como que perdido (Alexis de Tocqueville apud Martins, 2007 p. 24-26).

Passada a revolução, alguns pensadores franceses como Durkheim e Comte começam a fomentar uma ciência social ao buscar entender a nova realidade provocada pela revolução. Esses pensadores nutriam certo rancor pela revolução, principalmente pelos seus falsos dogmas (liberdade, igualdade e importância do indivíduo em face das instituições sociais). Esses primeiros teóricos começam a utilizar os termos “anarquia”, “perturbação”, “crise”, “desordem” para julgar aquele estado de coisas.

Os novos teóricos propõem racionalizar a nova ordem e encontrar soluções. Para tanto era necessário conhecer as “leis” (científicas) que regem os fatos sociais.

Saint-Simon: “a filosofia do último século foi revolucionária; a do século XX deve ser reorganizadora” (apud Martins, 2007, p. 28).
Auguste Comte: “a nova teoria positiva da sociedade deve ensinar os homens a aceitar a ordem (industrial) existente, deixando de lado sua negação” (idem).

- A sociologia, nova ciência da sociedade, surge com fins e interesses práticos.

A nova ciência assumia como tarefa intelectual repensar o problema da ordem social, enfatizando a importância de instituições como a autoridade, a família, a hierarquia social, destacando a sua importância teórica para o estudo da sociedade.

Mas, no início, a sociologia surge tentando instaurar um estado de equilíbrio, pregando a ordem e a obediência (como a defesa do papel chefe de família por Le Play). A sociologia revestiu-se de indisfarçável conteúdo estabilizador, ligando-se aos movimentos de reforma conservadora da sociedade.

Auguste Comte intentava atribuir o status de ciência natural à sociologia, inclusive separando-a, por seu objeto, da filosofia e da economia:



Entendo por física social a ciência que tem por objeto próprio o estudo dos fenômenos sociais, segundo o mesmo espírito com que são considerados os fenômenos astronômicos, físicos, químicos e fisiológicos, isto é, submetidos a leis invariáveis, cuja descoberta é o objetivo de suas pesquisas. Os resultados de suas pesquisas tornam-se o ponto de partida positivo dos trabalhos do homem de Estado, que só tem, por assim dizer, como objetivo real descobrir e instituir as formas práticas correspondentes a esses dados fundamentais, a fim de evitar, ou pelo menos mitigar, quanto possível, as crises mais ou menos graves que um movimento espontâneo determina, quando não foi previsto. Numa palavra, a ciência conduz à previdência, e a previdência permite regular a ação. (apud Martins, 2007 p. 32).


- A sociologia só se liga ao socialismo e ao comunismo posteriormente. À época de Comte se pretendia colocar em questão os fundamentos da sociedade capitalista por intermédio de um estudo por uma ciência positivista.


1.2 O Positivismo

- O positivismo foi uma reação intelectual conservadora às transformações desencadeadas pela Revolução Francesa e Industrial, transformações que não eram previstas pelos filósofos e intelectuais (urbanização, miséria, suicídio, epidemias, etc.).
- Esses conservadores construíram suas obras contra a herança iluminista que, na visão de Auguste Comte, só fazia criticar as velhas instituições sociais (negativismo). O Positivismo tinha a intenção de construir (positiva, portanto) uma nova coesão social, uma nova sociedade saudável sob o solo de instituições fortes como a família, a religião e o grupo social.

- Não obstante, antes de se falar propriamente dos positivistas, é mister mencionar os críticos pioneiros aos revolucionários, os pensadores conhecidos como profetas do passado.
- Os conservadores que foram chamados profetas do passado construíram suas obras contra a herança dos filósofos iluministas. A inspiração desses “profetas” era a sociedade feudal, com sua estabilidade e acentuada hierarquia social (não defendiam propriamente o capitalismo por sua faceta industrial e financeira).
- Responsabilizavam os iluministas e suas idéias como desencadeadores da Revolução de 1789 (um castigo de Deus à humanidade, segundo tais conservadores).
- Os conservadores, defensores fervorosos das instituições religiosas, monárquicas e aristocráticas, que se encontravam em processo de desmoronamento, consideravam as crenças iluministas como aniquiladoras da propriedade, da autoridade, da religião e da própria vida. Julgavam a época moderna era dominada pelo caos social. A Revolução de 1789 era o último elo dos acontecimentos nefastos iniciados com o Renascimento, a Reforma Protestante e a era da razão.
- Exemplos desses pensadores: Edmund Burke (1729-1797), Joseph de Maistre (1754-1821), Louis de Bonald (1754-1840).

- Pois bem. Estes profetas do passado, conservadores, constituíram um ponto de referência para os pioneiros da sociologia, interessados na preservação da nova ordem econômica e política que estava sendo implantada na Europa daquela época.
- Mas estes pioneiros adaptaram as concepções dos profetas do passado às novas circunstâncias históricas. Não era possível o retorno à sociedade feudal e a restauração de suas instituições. Mas o que encantava os pensadores pioneiros da sociologia era a devoção daqueles “profetas” na tentativa de manutenção da ordem.

- Os primeiros positivistas, Sait-Simon (1760-1825), Auguste Comte (1798-1857) e Émile Durkheim (1858-1917), revisaram algumas das idéias conservadoras e as adaptaram na tentativa de alcançar meios de manutenção da ordem na nova sociedade, defendendo os interesses dominantes da sociedade capitalista (Martins, 2007 p. 40).

- Saint-Simon é considerado o mais eloqüente dos profetas da burguesia, um entusiasta da sociedade industrial. Para ele as relações sociais haviam se tornado instáveis e o problema a ser enfrentado era o da restauração da ordem. Via no industrialismo a possibilidade de satisfação das necessidade humanas e constituía a única fonte de riqueza e prosperidade.
- A função do pensamento social neste contexto deveria ser a de orientar a industria e a produção.
- Para Saint-Simon a ciência poderia desempenhar a função de conservação social como fez a religião na época medieval.
- Os fabricantes, comerciantes e banqueiros seriam os novos suseranos (senhores feudais). Esta elite estabeleceria os objetivos da sociedade e comandaria a classe trabalhadora.
- Os ímpetos revolucionários deveriam ser freados e a melhoria da condição de vida dos trabalhadores partiria (seria de iniciativa) da elite formada pelos industriais e cientistas.
- Saint-Simon tinha uma faceta progressista, que se tornaria, posteriormente, influência ao socialismo.

- Auguste Comte foi secretário particular de Saint-Simon, tendo acatado algumas de suas idéias. Comte era um pensador inteiramente conservador e um defensor sem ambigüidades da nova sociedade (que deveria ser criada com base na ordem).
- Culpava também os iluministas por terem disseminado o veneno da desintegração social.
- A proposta de Comte era o restabelecimento da ordem nas idéias e nos conhecimentos, criando um conjunto de crenças comuns a todos os homens.

- Para o conhecimento humano, Comte buscou os princípios para o seu estabelecimento sob uma base positivista (a verdadeira filosofia deveria proceder de forma positiva diante da sociedade).

- A sociologia, ao lado das demais ciências naturais (matemática, biologia, física, química) deveria se formas como uma física social. Ela deveria utilizar em suas investigações os mesmo procedimentos das ciências naturais, tais como a observação, a experimentação, a comparação, etc.

- Ordem e progresso constituíram os termos centrais da proposta de Comte. Deveriam ser elementos da nova sociedade. Mesmo conservador, ele achava que as idéias dos profetas do passado impediam o progresso. De outro lado, as idéias revolucionárias, em que pese pregassem o progresso, esqueciam-se da ordem.


- Émile Durkheim também tinha uma preocupação constante com a questão da ordem. De modo sistemático ocupou-se de estabelecer o método de investigação da sociologia.
- Na época dele as idéias socialistas ganhavam terreno (e já havia sindicatos e greves aconteciam).
- Ele discordava das teorias socialistas porque elas devam uma ênfase muito significativa aos fatos econômicos para diagnosticar a crise européia. Para Durkheim esse problema não tinha uma natureza econômica, mas advinha de uma fragilidade moral da época em orientar adequadamente o comportamento dos indivíduos. Para ele, também, era necessária a ordem.
- A proposta dos socialistas de redistribuição de riquezas e modificações na propriedade (medidas de natureza econômica) não contribuía para a solução da “doença social”.

- Seria fundamental, dessarte, o encontro de novas idéias morais capazes de guiar a conduta dos indivíduos – a ciência poderia encontrar soluções nesse sentido.

- Possuía uma visão otimista da nascente sociedade industrial. Dizia até que a divisão do trabalho não era prejudicial ao trabalhador e não originava conflitos sociais, mas um benefício que aumentava a solidariedade e a cooperação entre os homens.

- O problema, repisa-se, era a falta de valores morais aptos à coesão social. Isso fazia com que a sociedade industrial mergulhasse num estado de anomia, um estado de ausência de regras claramente estabelecidas. A sociedade era incapaz de exercer controle sobre o comportamento de seus membros, ela estava doente (mostra disso era a crescente quantidade de suicídios em sua época).

- A sociologia deveria se preocupar com os fatos sociais que se apresentavam aos indivíduos como exteriores e coercitivos. Os fatos sociais já existem antes mesmo do nascimento das pessoas e são, para elas, verdadeiras e significativas influências de comportamento (exemplo: o direito, os costumes, as crenças tradicionais, as crenças religiosas, o sistema financeiro, etc.).

- Para a saúde social, para o bom funcionamento da sociedade eram necessários incentivos à moderação dos interesses econômicos, a ênfase na noção de disciplina e dever , assim como a difusão ao culto à sociedade, às suas leis e hierarquia existente.

A função da sociologia, nessa perspectiva, seria a de detectar e buscar soluções para os “problemas sociais”, restaurando a “normalidade social” e se convertendo dessa forma numa técnica de controle social e de manutenção do poder vigente. (Martins, 2007, p. 50).


1.3 A abordagem Funcionalista

A investigação funcionalista busca explicação das instituições sociais e culturais em termos de contribuição que estas fornecem à manutenção da estrutura social.

- O funcionalismo estuda os fenômenos sociais a partir das funções que desempenham na sociedade. Considera que a sociedade é uma totalidade orgânica na qual os diferentes elementos se explicam pela função que preenchem, pelo papel que desempenham, pelo modo que estão ligados uns aos outros no interior desse todo. As partes do todo são inter-relacionadas e interdependentes.

- Organicismo biológico de Herbert Spencer: os organismos sociais, quanto mais crescem, mais se tornam complexos, ficando as partes mutuamente dependentes. Análise das estruturas, órgão e funções.

- Cada costume, cada crença, cada objeto material tem uma função vital, representando uma parte insubstituível do todo orgânico (como doutrina Bronislaw Malinowski 1884-1942).

O sistema social é entendido como unidade funcional e a estrutura social é o acordo entre as pessoas que têm entre si relações institucionalmente controladas e definidas. A perspectiva funcionalista leva em conta o olhar do observador, e não do agente social. A função social se refere às conseqüências objetivas e observáveis, não as intenções subjetivas dos participantes (Robert Merton apud Dias, 2005, p. 27).
Daí a diferenciação entre função manifesta (obtida por uma percepção objetiva de uma ação ou instituição social) e função latente (não imediatamente observada pelo participante, embora verdadeira). Exemplo: a escola. Tem a função de transmitir às futuras gerações os conhecimentos acumulados (manifesta), ou a função de controle social, reproduzindo os valores aceitos e que invariavelmente não podem ser questionados (latente)?

2 O indivíduo e a sociedade

2.1 A cultura


É algo inerente ao ser humano. Não há cultura fora dos humanos. O homem, ao contrário de outros animais, não vive no mundo natural tal como esse lhe foi apresentado.
A cultura se origina quando o homem começa a se diferenciar de outros animais (há milhares de anos), quando ele começa a utilizar instrumentos que facilitam sua ação cotidiana, começa a usar agasalhos e a se organizar além do que sua condição biológica lhe exigia (não só satisfazia as necessidades que sua condição biológica lhe impunha como a necessidade de comer, de se reproduzir, de se defender, de se proteger do tempo, etc.).
A capacidade de adaptação do homem propicia sua adaptação aos locais em que decidia viver. Essa capacidade não o prendia a nenhum nicho ecológico.
A capacidade de intervenção do homem na natureza aumentou e pouco a pouco foi diminuindo sua dependência aos limites impostos pelo instinto biológico.

Esses atos, procedimentos e criações que foram desenvolvidos pelo homem e que não estavam relacionados com o instinto natural é o que denominamos cultura.
O simples uso de uma pedra como peso para papel, por exemplo, é cultura.

E o meio cultural socializa novas gerações tornando o ser humano um herdeiro de um longo processo acumulativo que reflete o conhecimento e a experiência adquiridas pelas numerosas gerações que o antecederam. “A manipulação adequada e criativa desse patrimônio cultural permite as inovações e as invenções” (Laraia apud Dias, 2005, p. 50).

Dessarte, vê-se que sociologicamente (cientificamente) o conceito de cultura se distingue do sentido comumente partilhado pelo senso comum (quando se diz, por exemplo, que fulano tem muita cultura porque possui uma quantidade de conhecimento admirável, ou quando se diz que a cultura do índio é inferior à do homem branco). Todos os seres humanos possuem cultura, e esta não pode ser melhor ou inferior a outra – serão somente diferentes.
Assim, afirmar que uma pessoa tem mais cultura que a outra constitui um juízo de valor emitido a partir do referencial de determinada cultura (etnocentrismo).

O entendimento do real significado da cultura, da relatividade dos hábitos, costumes e valores - frente à diversidade – e da sua transitoriedade poderão tornar o ser humano mais tolerante, pois aquilo que nos parece adequado pode ter diferentes significados em outros lugares.

Como se disse, a cultura é um fenômeno eminentemente humano. Não há cultura fora dos humanos. Toda criação humana, material ou não material, é cultura; onde não há intervenção ou criação humana temos somente a natureza. Podemos falar, portanto, na existência de meio ambiente natural e meio ambiente cultural.

O ambiente cultural do homem inclui, por exemplo, as vilas, as aldeias, as cidades os animais domésticos, as plantações, os novos relacionamentos entre os indivíduos, a linguagem, as crenças, as religiões, a música, a tecnologia etc.

Subcultura - Conjunto de traços comuns entre indivíduos que estão ligados a um outro conjunto maior (que abarca maiores diversidades) que é a cultura. A cultura humana é formada por um número indeterminável de subculturas, que podem ser estudadas como unidades bem caracterizadas. Assim podemos falar da cultura francesa, da indiana, da brasileira, que são subculturas da cultura humana em geral.

Vejam-se algumas definições de cultura:
- Sistema de idéias, conhecimentos, técnicas e artefatos, de padrões de comportamento e atitudes que caracteriza uma sociedade.

- Conjunto acumulado de símbolos, idéias e produtos materiais associados a um sistema social, seja ele uma sociedade ou uma família.

- “Cultura é aquele todo complexo que inclui conhecimento, crença, arte, moral, direito, costume e outras capacidades e hábitos adquiridos pelo homem como membro da sociedade”. (Tylor, 1871).

A cultura abrange tudo o que foi criado pela humanidade, tanto do ponto de vista material como não material. Inclui idéias, valores, manifestações artísticas de todo tipo, crenças, instituições sociais, conhecimentos científicos e técnicos, instrumentos de trabalho, tipos de vestuário, alimentação, construção, etc.

É a cultura que estabelece os limites no qual se desenvolve toda a ação social (por exemplo, pode-se ser mais efusivo no cumprimento em determinada cultura; pode-se fazer do almoço um momento de discussão, de euforia, ou de silêncio; o adultério ou a poligamia podem ser tidos como condutas aceitáveis ou não...).



- Características principais segundo Reinaldo Dias (2005, p. 51/52):

a) É transmitida pela herança social (e não biológica);

b) Compreende a totalidade das criações humanas;

c) É uma característica exclusiva das sociedades humanas;

d) A cultura é construída e partilhada por membros de uma determinada coletividade

e) Há na cultura elementos tangíveis (ex. instrumentos) e intangíveis (ex. crenças), assim como elementos materiais e imateriais.

f) A cultura se manifesta por meio de variados sistemas: valores, normas, ideologia, etc. que influenciam decisivamente a personalidade individual.


Entre as variadas manifestações concretas de uma cultura, há que destacar:

a) Vida material: produção necessária para se garantir a sobrevivência: ferramentas, conhecimento, técnicas, etc. Processos que uma cultura utiliza para produzir bens e serviços e sua distribuição e consumo;

b) Interações sociais: os papéis que a população e as pessoas assumem e os padrões de autoridade e de responsabilidade. Esses são confirmados pelas instituições sociais que se reafirmam (cultos, ritos, festas, educação, chefia, etc.);

c) Linguagem: considerada não somente no sentido oral. Estende-se à totalidade da manifestação e comunicação simbólica, na qual se incluem a fala, os gestos, as expressões, os símbolos e outros mecanismos de manifestação do indivíduo;

d) Estética: revela os padrões culturais de beleza e sua expressão (nos desenhos, estilos, cores, movimentos, emoções, artes, posturas preferidas, etc.)

e) Religião: influencia na percepção que uma cultura possui sobre a vida, seu significado e seu conceito. Também desempenha influência nos papéis sociais que o homem e a mulher devem desempenhar, estabelece relações de autoridade, as responsabilidades e os deveres dos indivíduos, etc.

f) Hábitos alimentares: a obtenção, a preparação e o consumo de alimentos estão inter-relacionados com muitos outros elementos universais de uma cultura, como a cerimônia, festas, tradições e divisão do trabalho. Por exemplo, algumas culturas não consomem carne de vaca, em outras não se consome a de porco.

- Outros conceitos importantes:

Processo de socialização é toda conduta que é aprendida e os seus resultados, cujos elementos são compartilhados e transmitidos pelos homens que compõem uma determinada sociedade. Na conduta se inclui tudo aquilo que o homem aprende e produz por meio de suas atividades, incluindo-se aspectos sociais, psicológicos e físicos.

Cultura de massa – aglomerado heterogêneo de indivíduos, que são tratados de forma homogênea pelos meios de comunicação. A cultura de massa é um produto típico da era industrial. É o produto da indústria cultural (TVs, rádios, jornais, revistas). A cultura de massa não é feita por aqueles que a consomem e se baseia numa economia de mercado (economia baseada no consumo de bens). A cultura de massa surge como funções do fenômeno da industrialização (cultura feita em série, para um grande número de pessoas e é trocável por uma quantia em dinheiro e que deve ser consumido como se consome qualquer outra coisa. Essa cultura não é vista, portanto, como instrumento de crítica e conhecimento).

Contracultura – manifestação cultural de grupos que rejeitam as normas e os valores da sociedade, buscando estilos de vida alternativos (como os antigos hippies, por exemplo). Mas se constitui uma subcultura da cultura mais geral.

Estrutura da cultura: formada por alguns elementos básicos (às vezes não aparentes como a estrutura de um edifício), tais como as crenças, os valores, as normas, as sanções, os símbolos, o idioma e a tecnologia, e que são transmitidos às novas gerações de modo formal e informal. A estrutura cria uma “rede de significados” que dá sentido às manifestações e às ações sociais.

Mas, como toda criatura se há de – fatalmente – voltar contra o criador, repetindo a revolta dos anjos e o crime dos nossos primeiros pais, também a cultura se haveria de libertar do homem e construir um objeto de sua especulação, como algo com que se encontra o homem em sua vida, já que a cultura é a herança social, e o homem herdeiro por condição ontológica. (Ortega apud Machado Neto, 1987, p. 156).


2.2 Instituições sociais


Instituição social é um sistema complexo, organizado e relativamente permanente de relações sociais, que incorpora valores e procedimentos comuns aos indivíduos e atende a certas necessidades básicas da sociedade. (Dias, 2005, p. 201).
No complexo sistema de interações sociais existentes nas diferentes sociedades, algumas repetitivas, rotineiras e esperadas tornam-se necessárias e, quando não ocorrem, acabam fazendo falta para uma determinada comunidade por cumprirem um papel naquela coletividade. Daí sua importância.
Nas instituições sociais as atividades são rotineiras e previsíveis, e as relações entre os vários tipos de membros vão ficando cada vez mais padronizadas.
Uma instituição social não é um órgão formal ou necessariamente uma instituição política. Por exemplo, uma luta de boxe (oferece entretenimento, vazão de agressividade, gera empregos, etc.), o jogo do bicho, a linguagem, ou o próprio Estado (que proporciona uma teia de relações entre pessoas, de empregos e satisfação a necessidades sociais). Todas as instituições, formais ou não, desempenham um papel social, têm diferentes status, mas visam suprir alguma necessidade.
Algumas surgem espontaneamente no decorrer do tempo e suas normas podem não estar codificadas em leis ou regulamentos.

De um modo geral, a maior parte das instituições fundamentais – além de legitimada pela aceitação social – é legalmente instituída. Mas outras existem e são legitimadas sem serem, como se demonstrou nos dois parágrafos acima, legalmente instituídas.
As instituições se desenvolvem gradativamente, conforme as necessidades de um povo.

- Instituições sociais básicas: algumas instituições estão presentes na maioria das sociedades, daí serem consideradas básicas. São exemplos a instituição familiar, a educacional, a religiosa, a econômica, o trabalho e a política.

- Alguns conceitos:

- Instituição é uma organização de normas e costumes para a obtenção de alguma meta ou atividades que as pessoas julguem importantes.
- Instituições são processos estruturados por meio dos quais grupos e indivíduos se esforçam para levar a cabo suas atividades.
- Instituições são conjuntos organizados de crenças e práticas.

O processo de institucionalização impõe normas, regras e regulamentos (como ocorre numa família, por exemplo, ou numa sociedade, numa comunidade...)

Todas as definições de instituições implicam um conjunto de normas de comportamento e um sistema de relações sociais pelo qual essas normas são implementadas.

Atenção: uma instituição não é um grupo enquanto tal, mas um conjunto de comportamentos e crenças que o grupo adota.

Nesse sentido a instituição social é diferente, por exemplo, de uma associação.


- Algumas características:

a) As instituições formam uma estrutura permanente dentro da qual operam a cultura e a estrutura social;
b) Todas as instituições apresentam alguns rituais como costumes, leis, cerimônias, vestimentas respectivas.
c) Elas tendem a regulamentar e controlar o comportamento dos indivíduos, pois incorporam os valores fundamentais adotados pela sociedade e as expectativas por ela aceitas. Qualquer desvio desse padrão pode gerar a exposição a um constrangimento (aspecto da coercibilidade do fato social);
d) As pessoas aprovam o comportamento institucionalizado porque elas dão estabilidade e consistência a seus membros. Os padrões de comportamento estabelecidos se tornam parte da tradição de uma determinada sociedade.
e) Por intermédio da institucionalização, o comportamento espontâneo e imprevisível é substituído pelo comportamento regular e previsível (ex: uma luta oficial de boxe é diferente de uma briga de rua; um campeonato organizado determina sempre o campeão de determinada categoria).
f) As instituições sociais se diferenciam dos grupos sociais. Os grupos sociais são formados por pessoas que têm um objetivo comum e estão interadas socialmente. As instituições referem-se às regras e aos procedimentos padronizados dos diversos grupos (ex: procedimentos que regulamentam as relações entre pai, mãe e filhos formam a instituição família. Mas a família pode ser vista como grupo social se observarmos o fato da interação e da existência de objetivos comuns a serem atingidos por eles enquanto grupo). Uma instituição não é, portanto, o grupo enquanto tal, mas, sim, um conjunto de comportamentos e crenças que o grupo adota.
g) As pessoas não pertencem às instituições (no sentido científico), embora possam integrar um determinado grupo social. Isto porque a instituição não é algo concreto, mas uma abstração (podemos ver igrejas, mas não uma religião; podemos ver operários, mas não a economia).
h) As instituições se diferenciam, outrossim, das associações. A cada instituição há, de um modo geral, pelo menos uma associação que realiza as funções daquela instituição. As associações têm nomes, podem ser localizadas em alguns espaços físicos; têm membros e são organizadas (ex: o Flamengo é uma associação ligada à instituição social esporte – Dias, 2005, p. 203).


Em resumo, uma instituição é um procedimento organizado, um modo estabelecido, pelo qual uma sociedade alcança seus objetivos.


- Quadro resumo:


INSTITUIÇÕES SOCIAIS
GRUPOS SOCIAIS
Referem-se a regras e aos procedimentos padronizados dos diversos grupos. (ex: regras e procedimentos entre pai, mães e filhos)
Pessoas que possuem objetivos comuns e estão em interação (ex: família enquanto grupo social).
Conjunto de comportamentos e crenças que o grupo adota.
ASSOCIAÇÕES
Abstrato (ex: a religião e não a igreja; o trabalhador e não a economia)
Grupo organizado de indivíduos que realiza as funções de uma instituição (têm nomes e podem ser localizadas fisicamente).
Modo pelo qual uma sociedade alcança seus objetivos.
De um modo geral, há pelo menos uma associação para realizar as funções de uma instituição.
Comportamento regular e previsível que substitui o espontâneo e imprevisível.
Exemplo: O Atlético é uma associação ligada à instituição futebol.


- Símbolos institucionais:

Os símbolos servem para designar uma determinada instituição e servem para lembrar sua existência.
Por exemplo, a Bandeira Nacional representa instituições políticas de um país e representa a fidelidade de um cidadão a seu país; o crucifixo representa uma instituição religiosa; uma aliança o casamento...


2.3 O Direito e a cultura

O mundo da cultura é uma região da realidade que o engenho humano ajuntou ao mundo natural. Ao intentar uma teoria sobre os objetos, o filósofo agrega, também ao mundo natural, uma ontologia desses objetos e uma construção de objetos ideais e valores que têm uma existência em si, independente do sujeito humano, embora seja este o único ser, em toda a natureza, capaz de intuí-los e desejá-los.

O homem cria valores, todos calcados em ideais humanamente construídos!

E só o homem, próprio criador, pode desejar e cultuar os ideais segundo valores sociais (certo, errado, bem, mal, justo, ruim, legítimo...).

O mundo dos objetos culturais participam ora do ser, ora do dever ser, do valor, como realidades que “são enquanto devem ser” (Machado Neto, 1987, p. 157). Assim se caracteriza, além de outros valores institucionais, o Direito.
O Direito é um dever ser, como se sabe, mas um dever traçado a partir de fatos sociais verificáveis (ser) aos quais são agregados valores (certo ou errado, por exemplo), relação dialética específica donde nasce a norma e o Direito (Teoria Tridimensional do Direito de Miguel Reale).

Fato + Valor => Norma

O homem cria o Direito enquanto conjunto de valores que recebem, do Estado, tutela. O Direito nasce da necessidade humana (necessidade social de ordem e paz), a partir da criação de valores para fatos e objetos, de se guiar pelo dever ser.

Os atos que praticamos e os fatos que construímos (em que se pode resumir a cultura) são justificados mediante uma valoração que lhes dá um sentido, uma sucessão de estimativas, o ser do homem sendo o seu dever ser, como diria Miguel Reale em tese.

A cultura pode ser analisada com base nos valores que satisfazem as necessidades materiais e espirituais do homem. Por exemplo: o Verdadeiro, o Belo, o Bem, o Justo, o Sagrado, o Útil são valores fundantes das realizações culturais no plano da ciência e da filosofia, da arte, da moral, do direito, da religião, da economia, e tecnologia, respectivamente (MACHADO NETO, 1987, p. 158)

O Direito e socialmente a instituição que oferece segurança para as relações civis, regulação para is bens materiais, garantidor de status (nacionalidade, membro de família, cônjuge, menor, herdeiro, devedor, condômino, doador, etc.). Enquanto realizado e vivido na vida social, o Direito é um fenômeno cultural institucional como configuração de condutas.
E é passado e assimilado pelas pessoas por intermédio das normas, códigos, juízes, profissionais da praxe cotidiana, de docência universitária, da ciência, de profissão intelectual, etc.).


3 A desigualdade social, desvio social e controle social


3.1 Estratificação social e desigualdade

Divisão da sociedade em camadas (estrato: conjunto de pessoas que detêm o mesmo ‘status’ ou posição social). Os ocupantes dos estratos sociais têm acesso desigual a oportunidades sociais e recompensas (Dias, 2005, p. 154).
Todas as sociedades possuem desigualdades. A desigualdade social descreve uma condição na qual os membros de uma sociedade possuem quantias diferentes de riqueza, prestígio ou poder. Os estratos sociais se sobrepõem socialmente numa relação de hierarquia.

A utopia da igualdade a ser concretizada está na obtenção de direitos iguais a todos, independentemente de sua condição social, sexual, de raça, de etnia, etc. O atendimento das necessidades básicas – alimentação, moradia, saúde, bem-estar social, etc. – deve integrar os direitos fundamentais da existência humana.
Quando se diz “sociedade igualitária” está a se referir à igualdade de oportunidades que devem ter todos os indivíduos de determinada sociedade, sem discriminação de nenhuma espécie. Isso porque os homens (e mulheres e crianças) têm naturalmente diferenças em ralação aos outros (idade, sexo, força, resistência, velocidade, acuidade visual e auditiva, inteligência, beleza, etc.). É impossível uma sociedade de pessoas iguais.
As diferenças entre os homens permitirão que, ao longo de suas vidas, de acordo com a capacidade e a habilidade de trabalhar com aquilo que possui de melhor, avancem em termos de suprimento de suas necessidades, as quais, além de básicas compreenderão outras, de cunho estético ou artístico, por exemplo. Assim sempre existirá um grau de diferenciação social que formará camadas sociais hierarquizadas (e as pessoas, por seus gostos e trabalho, sempre irão se identificar com determinado grupo de pessoas e não outro).

As sociedades se tornam estratificadas por vários fatores, dentre os principais: a competição, o conflito, a divisão do trabalho e a especialização. Em menor grau, mas não menos importantes, estão as diferenças biológicas como as de sexo, de idade, de raça e de etnia.
A estratificação ocasiona barreiras sociais (exemplo: endogamia, a possibilidade de casamento somente entre pessoas da mesma raça, como acontecia na África do Sul na época do apartheid).

3.1.1 Estratificação social por Karl Marx

Estratificação social em Marx: conceito ligado à dimensão econômica, se estabelece nas relações de produção – traduzido na realidade das “classes sociais”: burguesia x proletariado (exploradores x explorados).

(...) a época da burguesia caracteriza-se por ter simplificado os antagonismos de classes. A sociedade divide-se cada vez mais em dois vastos campos opostos, em duas grandes classes diametralmente oposto as, a burguesia e o proletariado. (Marx e Engels apud Dias, 2005, p. 155).


3.1.2 Estratificação social por Max Weber

Estratificação social em Weber: a identifica por intermédio de três componentes ou ordens: a econômica, (classe: riqueza e renda); a social (status: prestígio); e a política ou legal (poder).
Existe relações entre elas, ou seja, a posição de uma pessoa em um sistema de estratificação refletiria um pouco da combinação de sua classe, de seu status e de seu poder.
Ao contrário de Marx, Weber diz que as classes sociais se estratificam segundo o interesse econômico, em função de suas relações de produção e aquisição de bens. A diferenciação econômica se mostra pelos rendimentos, bens e serviços que o indivíduo possui ou de que dispõe (o que está intimamente relacionado com a possibilidade de acesso que as pessoas têm ao mercado).


3.3 Desvio social e controle social


O controle que um grupo social exerce sobre seus membros é, muitas vezes, imperceptível, e nós mesmos exercemos um certo controle sobre nossos atos, aflorando um sentimento de culpa quando nos desviamos do que é considerado correto.

Esse controle é absolutamente fundamental para o funcionamento das sociedades (o contrário resultaria em desordem - Dias, 2005, p. 102).

Toda sociedade, sem exceções, estabelece regras de convivência entre seus membros, e sem elas, portanto, pode-se dizer que seria impossível a convivência social. As diferentes culturas toleram certos desvios sociais, não exigindo que todos os seus membros sigam durante todo o tempo as normas estabelecidas e aceitas consensualmente.
Mas a tolerância tem, obviamente, um limite. No momento em que o indivíduo, por seus atos, passa a afetar o funcionamento da sociedade entram em ação os mecanismos de controle social.

A regulamentação da vida social muitas vezes está codificada no direito – regras escritas interpretadas pela autoridade legitimamente aceita pelo grupo (no nosso caso um juiz; mas em outras sociedades podem ser um curandeiro ou um cacique indígena).
Todavia as normas nem sempre são escritas ou estabelecidas formalmente; neste caso estão tão interiorizadas nas pessoas que se tornaram costumes a serem seguidos sem que sejam questionados. Elas são aceitas pelos indivíduos do grupo e, quando um deles as transgride, sofre penalidades ou sente-se constrangido a ponto de se reprimir automaticamente (nesse caso o controle é auto-exercido). Exemplo: o uso do cinto de segurança – norma que foi posta em sociedade e interiorizada por seus membros a ponto de causar desconforto e insegurança àqueles que não a observam.

As normas sociais variam de sociedade para sociedade, desde hábitos simples a situações mais complexas (como o ordenamento jurídico, por exemplo). Essas normas derivam dos costumes. São exemplos: o rito de alimentação na China (onde se mostram os animais vivos na mesa do restaurante antes de cozinhá-los) é diferente no Brasil; no Marrocos não se come com o uso de talheres; os muçulmanos que se transformam em homens-bomba são considerados insanos no nosso país.

Vejam-se essas características:

As normas sociais não são estáticas, estão em constante mudança (como a cultura)
As normas estão baseadas em valores que a sociedade julga fundamentais para o seu funcionamento ordenado.

As normas e valores sociais são aceitos sem questionamento.
Valor impõe-se ao indivíduo como uma evidência e um absoluto (heteronomia).
Os valores variam com a civilização.
Os valores quando fortemente interiorizados, podem justificar atos que em outras sociedades seriam julgados como absurdos.
Quando os valores se transformam em ‘normas e costumes’, asseguram a regulamentação da vida dos indivíduos e dos grupos de uma sociedade.
As normas se tornam, assim, norte de um aprendizado social.

Os símbolos, nesse contexto, são importantes auxiliares do processo de socialização. Por exemplo: a erupção vulcânica, que pode significar manifestação dos deuses; gestos de saudação nazista; a mesa do diretor de uma empresa é destacada numa sala de reuniões, o que denota uma hierarquia entre os participantes; o herói-nacional; o operário-padrão, etc.

Os ‘símbolos’ são importantes auxiliares do processo de socialização.


3.3.1 Normas e costumes

Quando os valores se transformam em normas e costumes asseguram a regulamentação da vida dos indivíduos e dos grupos de uma sociedade.
São normas as idéias (fortalecidas) de certo e errado que se vinculam a determinados hábitos e costumes sociais. Devem ser entendidas como “obrigações sociais” às quais o indivíduo, ou ator social, está submetido. As normas suscitam a convicção de que a desobediência a elas acarretará algum tipo de problema.

As normas podem ser formais e informais.

FORMAIS ou legais: leis, decretos, códigos, estatutos. Estão codificadas no Direito e sancionadas pelo Poder Público. Podem ser, outrossim, normas dispostas no estatuto de determinada empresa, clubes esportivos, a proibição de fumar externada por um cartaz no corredor de um hospital, etc.

INFORMAIS: têm a mesma força coercitiva das formais, mas estão ritualizadas pelos hábitos e costumes. Exemplo: o costume de se sentar em uma cadeira e não no chão.

A institucionalização e a ritualização das normas são realizadas pela interiorização, mas também por um sistema de sanções. Em todo grupo existem aparelhos destinados a fazer serem as normas respeitadas e a aplicar as sanções (Dias, 2005, p. 109).
Mas nem sempre a institucionalização das normas significa que elas tenham forma jurídica (ex: respeito aos pais e aos mais velhos).

Valores gerais como solidariedade, segurança, êxito, honestidade, etc., quando aplicados a um determinado papel adotando uma forma estarão compondo normas.

Normas são fornecidas aos indivíduos – atores sociais – mais pelos seus grupos de referência do que pelo conjunto da sociedade (exemplo: estereótipos numa sociedade de massa: emos, góticos, punks, nerds, etc.).


3.3.2 O controle social

Para que serve o controle social?
Para a rotina e bom andamento – a ordem de uma sociedade apóia-se numa rede de papéis, milhares de pessoas cumprem o seu papel social, interagindo constantemente e mantendo a ordem social.

Nenhuma sociedade pode funcionar com êxito se o comportamento das pessoas não puder ser previsto de modo confiável (por exemplo, pode-se esperar o ônibus em determinado horário, que se ligue o computador porque tem energia, ou que a faculdade estará em funcionamento na tarde de hoje, se dia letivo).
A isso se dá o nome “ordem social”. Essa ordem é um sistema de pessoas, relacionamentos e costumes que opera para a realização do trabalho de uma sociedade (Dias, 2005, p. 109).

Para a rotina e bom andamento da sociedade a sua ordem se apóia numa rede de papéis, milhares de pessoas cumprem o seu papel social, interagindo constantemente e mantendo a ordem social.

Nessa ordem as pessoas assumem suas obrigações e conhecem seus direitos. Torna-se, então, fundamental ao funcionamento da ordem a criação de um mecanismo repressor para aqueles que não cumprem seu papel para que sejam coagidos a fazê-lo. Esses mecanismos formam o controle social.

Controle INFORMAL: utilizados casualmente pelas pessoas: sorrisos, olhares reprovadores, advertência verbal, etc.

Controle FORMAL: levado a cabo por agentes autorizados: policiais, empregadores, militares, etc.


O controle social pode ser feito de três modos diferentes:

Socialização: aprendizado, pelo individuo ao longo da vida, de seus papéis sociais e das crenças, valores, costumes, diretrizes de conduta. É o instrumento de maior controle e passa a ser feito pelo próprio indivíduo (exerce sobre si mesmo).
Pressão do grupo: a pressão grupal é sentida pelo indivíduo mesmo que inconscientemente. São manifestadas por aprovações (sorriso, tapinha nas costas, elogios – por grupos primários quando espontaneamente e informalmente – ou promoções, recompensas, títulos – por grupos secundários de uma maneira formal e por procedimentos padronizados), ou desaprovações (olhar de reprovação ou penalidades formais).
Sanções: sistema de recompensas e punições. Podem ser positivas (recompensas) ou negativas (punição). Podem ser formais (prisão, multa, externadas por órgãos oficiais) ou informais (beliscão, medo de se expor ao ridículo).

Quando falham os controles informais utilizam-se a força e a punição (legitimadas juridicamente). Ao Estado cabe o emprego legal das sanções físicas (ex: prisão, multa, cassação de direitos).
Por derradeiro, frisa-se que outras organizações, de modos diversos, punem fisicamente seus membros, como as gangues, a máfia (tortura, assassinato); a família (beliscões, puxões de orelha); a escola (suspensão, expulsão); a igreja (jejum, vigília).


3.3.3 Desvio social

Desvio social ou comportamento anormal (“a-normal”) – de quem não segue as normas, constituindo numa violação das regras sociais.
A caracterização de desvio social varia muito de sociedade e dentro destas nos mais diferentes grupos sociais. É considerado um comportamento anticonvencional.

São considerados anormais comportamentos criminosos, os da prostituta, do alcoólatra, mas também o são de um gênio musical, de um campeão, etc.

O fato desvio social é algo universal, está presente em todas as sociedades embora nelas sofra variações de conteúdo. São exemplos de desvios mais conhecidos em nossa sociedade: a delinqüência juvenil, o alcoolismo, o uso de drogas, o roubo, o estupro, a homossexualidade, o eremita, o hippie, o pecador, o santo, o avarento, o herói, as celebridades, etc. Alguns desvios são aprovados, outros não, e alguns toleráveis. Alguns são reprimidos legalmente e outros só pelos costumes.

Os atos de desvio são muitas vezes tolerados em nome da boa convivência – por exemplo os pais não sabem de tudo que fazem seus filhos, a igreja não exige que todos os seus freqüentadores sejam santos, etc.

Crime e desvio social não são, portanto, exatamente sinônimos!

Marginalidade

Fenômeno que designa o comportamento de quem pouco adere às normas sociais e, por isso, vive à margem do grupo social. Para que o individuo volte a viver de acordo com as normas é necessário um processo de socialização (reeducação).
O marginal tem suas próprias normas. “Escolheu” viver em desacordo com as normas sociais. Ele não tem condições de viver em sociedade e por isso precisa ser reeducado.

Crime

Desvio social que se caracteriza pela violação de normas sociais importantes.
Muitas normas legalmente instituídas são diuturnamente descumpridas pelos indivíduos, não são rigidamente cumpridas. São crimes passíveis de punição,mas há, para eles, certa tolerância pois praticados pelas pessoas comuns: ultrapassagem, na estrada, do limite de velocidade, a compra de CD pirata, o avanço do sinal vermelho, etc.
A sociedade e sua cultura definem, em certa medida, o limite de tolerância nesse sentido.


Anomia

Ao enfraquecimento das normas numa dada sociedade Durkheim deu o nome de anomia. O conceito designa uma desorganização tal da sociedade que enfraqueceria a integração dos indivíduos que não sabem as normas que devem seguir.

Numa sociedade ou grupo social em anomia faltará uma regulamentação durante certo tempo. Não se sabe o que é possível e o que não é, o que é justo e o que é injusto, quais as reivindicações e esperanças legítimas, quais as que ultrapassam a medida (Durkheim apud Dias, 2005, p. 114)

As regras e os valores sociais que guiam e legitimam a atuação dos indivíduos se tornam incertas, incoerentes e contraditórias. Resulta o desarranjo social denominado anomia.
As condutas anômicas são as marginais, muitas vezes ligadas à violência. Contudo, não se pode afirmar que anomia seja o mesmo que ausência de lei, embora aqueles que possuam uma conduta anômica possam violar a lei.

Numa sociedade em estado de anomia fica fácil a um líder carismático levar consigo a crença dos indivíduos por indicar a essas pessoas novos valores (personificados nesse líder) que oferecem a elas segurança. Nesse caso a anomia pode ter um resultado positivo ou negativo (como ocorreu com o nazismo liderado por Hitler, por exemplo).

Quando os indivíduos vivem em estado de anomia perdem o sentido de pertencer ao grupo. Muitas vezes o sujeito anômico se comporta como se tivesse perdido o passado, não previsse qualquer futuro e vivesse somente no presente imediato, o qual parece ser nenhum lugar (exemplo: prisioneiros dos campos de concentração – Dias, 2005, p. 114).


4 Principais pensadores clássicos da sociologia e seus conceitos


4.1 Émile Durkheim (1858-1917)

Um dos grandes teóricos da sociologia, Durkheim definiu com clareza o objeto dessa ciência: os fatos sociais (na obra As regras do método sociológico, de 1895 – Costa, 1997, p. 59).



4.1.1 Investigação sociológica

Sobre a investigação sociológica, Durkheim propôs a abordagem objetiva dos fatos sociais, ou seja, o cientista pesquisador deve se distanciar desses fatos, mantendo-se neutro em relação à influência particular que eles imprimem.
Ademais, é preciso que o sociólogo deixe de lado suas prenoções, isto é, seus valores e sentimentos pessoais em relação ao acontecimento a ser estudado. Há que se eliminar todos os traços de subjetividade na análise científica.
Por essa razão, tendo a pretensão de desenvolver a sociologia compassada às demais ciências naturais, Durkheim diz que os fatos sociais devem ser considerados como coisas. As opiniões individuais mascaram a realidade que só pode ser apreendida pelo cientista.

4.1.2. Fato social

Fato Social: toda maneira de agir, fixa ou não, suscetível de exercer sobre o indivíduo uma coerção exterior. É geral na extensão de uma sociedade dada. São as maneiras de agir, de pensar e de sentir exteriores ao indivíduo, dotadas de um poder de coerção em virtude do qual se lhe impõe.

É algo dotado de vida própria, externo aos membros da sociedade e que exerce sobre seus corações e mentes uma autoridade que os leva a agir, a pensar e a sentir de determinadas maneiras.
São três as características essenciais dos fatos sociais:

Coerção social (coercibilidade) – força que os fatos exercem sobre os indivíduos, levando-os a agir de determinada maneira, conformando-se às regras da sociedade em que vivem, independentemente de sua vontade ou escolha (ex: idioma, formação familiar, lei, etc.). As sanções dos fatos sociais podem ser legais (prescritas por leis) ou espontâneas (afloram em decorrência de uma conduta não adaptada à estrutura do grupo ou da sociedade à qual pertence o indivíduo). A educação (formal e informal) tem um importante papel na conformação dos indivíduos à sociedade. Com ela, pelo tempo, as regras se tornam internalizadas e viram hábito.

Exterioridade - Eles atuam sobre os indivíduos independentemente de sua vontade ou de sua adesão consciente. São exteriores ao indivíduo e estão presentes na sociedade antes mesmo do nascimento do indivíduo.

Generalidade – é social todo fato que é geral, que se repete em todos os indivíduos ou na maioria deles (ex: as formas de habitação, de comunicação, os sentimentos e a moral). Os fenômenos devem sempre ser considerados em suas manifestações coletivas, distinguindo-se dos acontecimentos individuais ou acidentais. A generalidade distingue o essencial do fortuito e especifica a natureza sociológica dos fenômenos (Costa, 1997, p. 61).

Exemplo de fato social abordado por Durkheim: o suicídio. É geral, pois existe em todas as sociedades; apresenta, por suas manifestações, certa regularidade (embora tenha particularidades variantes caso a caso); recrudesce ou diminui de intensidade em certas condições históricas, demonstrando sua natureza social.
O fato social é considerado normal quando presente em todas as sociedades. Por exemplo, o crime. É ruim, mas acontece em todas as sociedades e acaba por integrar as pessoas em torno de uma conduta valorativa, que pune o comportamento considerado nocivo.

A normalidade do fato social e a sua generalidade demonstram a vontade coletiva (o consenso social a respeito de determinado fato). O fato é patológico quando se encontra fora dos limites permitidos pela ordem social e pela moral vigente (cuidado: não é patológico,por exemplo, uma doença, pois que transitórias e excepcionais. Seria um fato patológico a condição da sociedade européia após as revoluções industrial e burguesa). Aquilo que põe em risco a harmonia e o consenso representa um estado mórbido da sociedade.

A consciência coletiva revela, no interior de qualquer grupo ou sociedade, formas padronizadas de conduta ou comportamento (mesmo existindo as consciências individuais – formas particulares de ver e interpretar a realidade).
A sociedade é uma síntese. O grupo possui uma mentalidade, uma consciência coletiva.

Consciência comum ou coletiva corresponde ao “conjunto das crenças e dos sentimentos comuns à média dos membros de uma mesma sociedade” que “forma um sistema determinado com vida própria [...] produz um mundo de sentimentos, de idéias, de imagens” (Durkheim na obra Da divisão do trabalho social, apud Costa, 1997, p. 62).
É a consciência coletiva que determina em certa sociedade o imoral, o reprovável, o criminoso.

A solidariedade social é responsável pela coesão entre os membros dos grupos Ela pode ser mecânica ou orgânica. A mecânica é a existente em sociedades pré-capitalistas, em que os indivíduos se identificavam por meio da família, religião, tradição e costumes, permanecendo em geral independentes e autônomos em relação à divisão do trabalho social. A orgânica é típica das sociedades capitalistas, em que a divisão do trabalho torna os indivíduos interdependentes – essa interdependência garante a coesão social em lugar dos costumes e das tradições. Na sociedade capitalista a consciência coletiva se afrouxa e a autonomia pessoal entre os indivíduos cresce, ao mesmo tempo em que são ainda dependentes.

OBS: O conceito de anomia, visto linhas acima foi introduzido na sociologia por Durkheim (anomia ou patologia social: rompimento de adequação de valores morais na sociedade, distanciamento de qualidade de vida).


4.2 Max Weber (1864-1920)


Também se preocupou em conferir à sociologia um caráter científico. Para ele um cientista não tinha e direito de possuir, a partir de sua profissão, preferências políticas e ideológicas – “neutralidade científica” (Martins, 2007, p. 62).

Acusa a debilidade da burguesia alemã de sua época para controlar o poder político, mesmo dominando a vida econômica, o que abriu um formidável espaço para a burocracia enfeixar em suas mãos a direção do Estado. A burocracia, que geralmente recrutava seus membros na nobreza, passava a impor a toda sociedade suas opções políticas (na dicção de Weber esse fato constituía a “ditadura do funcionário”).

Mesmo concordando com as idéias de Marx sobre a relação entre economia, política e cultura, não compartilhava do princípio de que a economia dominava as demais esferas da realidade social. Para ele Marx privilegiou demais a realidade econômica, como condicionante, em relação às demais. Para ele essa evidencia demandaria uma pesquisa mais apurada

A análise da religião teve papel importante na teoria de Weber. Desejou compreender a influência dessa esfera na conduta econômica dos indivíduos de uma sociedade. Escreveu a obra “A ética protestante e o espírito do capitalismo”, publicada em 1905, tese em que relacionou a influência dos princípios da ética protestante no desenvolvimento de uma certa racionalidade nos indivíduos que teria influenciado no desenvolvimento do sistema capitalista. Esclarece-se, não obstante, que essa tese de Weber buscou demonstrar apenas uma suposta influência (religiosa) entre outras mais que auxiliaram no desenvolvimento do capitalismo. Ele não quis demonstrar que esse fator foi o único e exclusivo.

Ficou famoso pela teoria de autoridade da burocracia – segundo essa teoria, um homem pode ser pago para agir e se comportar de certa maneira preestabelecida, a qual lhe deve ser explicada com exatidão, muito minuciosamente e em hipótese alguma permitindo que suas emoções interfiram no seu desempenho.

Burocracia é uma forma de racionalização humana que se baseia na racionalidade na adequação dos meios aos objetivos (fins) pretendidos, a fim de garantir a máxima eficiência possível no alcance desses objetivos.

A burocracia é a organização típica da sociedade moderna democrática e das grandes empresas. Prever organização, normas e regulamentos. A forma de Estado moderno expressa a racionalização da dominação política.

Da administração pública à gestão dos negócios privados, da máfia à polícia, dos cuidados com a saúde às prática de lazer, escolas, clubes, partidos políticos, igrejas, todas as instituições, tenham elas fins ideais ou materiais, estruturam-se e atuam através do instrumento cada vez mais universal e eficaz de se exercer a dominação que é a burocracia.

Cuida-se da execução dos deveres e dos direitos dos que se submetem a ela.

A especialização é necessária para o exercício de cargos ou funções e é claramente determinada.

Substituição de herança familiar ou parental e de amizade por leis ou regulamentações administrativas.
A organização burocrática é hierárquica, e o recrutamento para seus quadros dá-se através de concursos ou de outros critérios objetivos.

O tipo ideal do burocrata é o do funcionário que age em cooperação com outros, cujo ofício é separado de sua vida familiar e pessoal, regulamentado por mandatos e pela exigência de competência, conhecimento e perícia, e que não pode usar dos bens do Estado em proveito próprio ou apropriar-se deles. O burocrata não se subordina – como sucede, por exemplo, na forma de dominação feudal ou patrimonial – a uma pessoa como a um senhor ou patriarca, mas coloca-se a serviço de uma finalidade objetiva impessoal. O funcionário público, por exemplo – pelo menos num estado moderno avançado - não é considerado um empregado particular de um soberano.

O processo de burocratização também ocorre na economia e na empresa moderna a partir do estabelecimento de um controle contábil de custos, de formas racionais de organização do trabalho, e da mecanização.

Com a burocracia os indivíduos tenderiam a se tornar mais racionais em suas ações.


Por fim, frisa-se que Weber não era um entusiasta da modernização trazida pelo capitalismo e da forma de racionalização desenvolvida pelo homem ocidental. A grande racionalização da vida no Ocidente, abarcando campos como a música, o direito e a economia implicava num grande custo para o homem moderno. O mundo se mostrava cada vez mais intelectualizado, especializado e artificial, o que abandonava de vez os aspectos mágicos e intuitivos do pensamento e da existência.
Não via nenhum atrativo no movimento socialista porque ele acentuaria (o Estado socialista) esses aspectos da racionalização e burocratização da vida contemporânea. Como o filósofo Friedrich Nietzsche, tinha uma visão pessimista, uma apreciação melancólica dos tempos modernos, capitulando, por sua visão sociológica, de forma resignada diante da realidade social.


4.3 Karl Marx (1818-1883)



Sociólogo crítico e radical do capitalismo. Desenvolveu a teoria de fatos econômicos a partir da luta de classes, o “motor da história”.
Emprega, em sua análise, o método dialético (inspiração hegeliana – relação entre tese e antítese para a formação de uma síntese), mas voltado não ao campo das idéias, mas da realidade material da sociedade. Daí o nome materialismo dialético (as classes sociais, em dado momento histórico, compõem a tese e a antítese – têm interesses antagônicos – e a relação dialética de luta entre essas classes faz surgir uma nova situação material, a síntese).

Método dialético:

Tudo se relaciona (conexão universal);
Tudo se transforma (eterno desenvolvimento – motor da história);
Mudança qualitativa;
Luta dos contrários



Principais conceitos:

· Alienação
· Ideologia
· Fetichismo
· Mais valia

Resumidamente (serão melhor desenvolvidos em seguida):

Mais valia:


O sistema capitalista consiste na produção de mercadorias. Mercadoria é tudo o que produzido não tendo em vista o valor de uso, mas o valor obtido com a venda do produto.

Mais valia é o valor que o operário cria além do valor de sua força de trabalho, e que é apropriado pelo capitalista. Ele trabalha horas suficientes para produzir, em valores, muito mais que o seu salário, mas a parte que não recebe é destinada ao capitalista empregador, dono dos meios de produção e da matéria-prima.

Alienação:

O fundamento da alienação, para Marx, encontra-se a atividade humana prática: o trabalho – o fato econômico é “o estranhamento entre o trabalhador e sua produção”.
O operário não se reconhece no produto que criou, em condições que escapam a seu arbítrio e às vezes até a sua compreensão, nem vê o trabalho qualquer finalidade que não seja a de garantir sua sobrevivência (pelo salário).

Ideologia:

· Ciência da formação das idéias; tratado das idéias em abstrato; sistema de idéias.
· Conjunto de idéias próprias de um grupo, de uma época, e que traduzem uma situação histórica.
· Filosofia: Conjunto articulado de idéias, valores, opiniões, crenças, etc., que expressam e reforçam as relações que conferem unidade a determinado grupo social (classe, partido político, seita religiosa, etc.) seja qual for o grau de consciência que disso tenham seus portadores.


Fetichismo

Feitiço – artefato com forças estranhas capaz de exercer poder sobre os crentes e adoradores. Da mesma forma, a mercadoria surge não como resultado de relação de produção, mas valendo por si mesma, como realidade autônoma e, mais ainda, como determinante da vida dos homens.

A produção determina não só o objeto do consumo, mas também o modo de consumo, e não só de forma objetiva, mas também subjetiva. Logo, a produção cria o consumidor.

“Força de trabalho humano torna-se mercadoria.” No capitalismo o empregado, sem outra saída, já que por seus produtos artesanais não se matem no mercado, é obrigado a vender sua força de trabalho para produzir as mercadorias que beneficiarão o capitalista. O trabalho que desempenha não é gratificante porque o trabalhador não vê o resultado de seu trabalho, não tem pra si o valor real que dele se pode obter com a venda e participa, na produção, de apenas parte da confecção da mercadoria (em razão da divisão do trabalho). O trabalhador, nesses termos, não vê o resultado final de seu trabalho, apenas fica repetindo os mesmos movimentos e tarefas durante sua jornada laboral.
A força de trabalho é comercializada, portanto. Torna-se mercadoria e não força individual e expressão livre humana de transformação do ambiente natural.

OBS. 1: Esse assunto será trabalhado com maior profundidade pelo texto: “Trabalho: liberdade e submissão” a ser fornecido pelo professor.

OBS. 2: Sobre a teoria de Karl Marx, leia as linhas que se seguem, que tratam mais especificamente da matéria:

“Os filósofos se limitaram a interpretar o mundo de diferentes maneiras; o que importa é transformá-lo” (crítica de Marx ao jovem hegeliano, de esquerda, Feuerbach – XI tese sobre Feuerbach).

Marx considera a filosofia teórica da tradição como uma simples forma de idealismo, desvinculada da realidade social concreta e, nesse sentido, inútil. Mas, mesmo assim, se considera seu pensamento como situado como parte da tradição moderna da filosofia crítica. Marx pretende buscar um método filosófico para combater as ilusões da consciência e, assim, libertar o homem.

Marx diz que a interpretação hegeliana (de Hegel) do processo histórico, da dialética e da formação da consciência restringe-se ao plano das idéias e representações, do saber e da cultura, não levando em conta as bases materiais da sociedade em que este saber e esta cultura são produzidos e em que a consciência individual é formada. O exame crítico de Hegel não é suficientemente radical, não chegando a examinar as causas últimas, os pressupostos mais fundamentais. Das três dimensões da formação da consciência de Hegel (vida moral, linguagem e trabalho), Marx privilegia o trabalho como a mais fundamental.

Para Marx, o trabalho é a práxis social e histórica do homem. É a relação dos seres humanos com a natureza e entre si, na produção das condições de sua existência, Nesse ponto, Marx chaga a afirmar, juntamente com Engels, no Manifesto, que os seres humanos não se distinguem dos animais porque possuem consciência, nem porque sejam naturalmente sociáveis e políticos, mas porque são capazes de produzir as condições de sua existência material e intelectual.

Em Marx, ao contrário de Hegel, as idéias do homem são determinadas pela “terra”, pelas condições materiais de sua vida. A consciência não é livre e determinada, ela é condicionada pelo trabalho.
Marx concluiu, por suas pesquisas, que “as relações legais e as formas políticas não poderiam ser explicadas, seja por si mesmas, seja como provenientes do assim chamado desenvolvimento geral da mente humana, mas que, ao contrário, elas se originam das condições materiais da vida ou da totalidade que Hegel, seguindo o exemplo dos pensadores [...] do século XVIII, engloba no termo ‘sociedade civil’“ (apud Marcondes, 2005a, p. 228).

A questão central da análise de Marx passa a ser, portanto, o trabalho (relação invariante entre a espécie humana e seu ambiente natural, uma perpétua necessidade natural da vida humana).
O trabalho é um sistema de ação instrumental e contingente. Ele surge na evolução da espécie, mas condiciona nosso conhecimento da natureza ao interesse no possível controle técnico dos processos naturais.
O mundo que existimos é, nesse sentido, constituído pela relação material de trabalho do homem com a natureza. Dependendo da organização social do trabalho, a objetificação da natureza muda na história. Mas não só a natureza é alterada, também o é o próprio homem (não há uma essência humana fixa).

A História é a verdadeira história natural do homem. O materialismo histórico de Marx pretende ser uma teoria científica da história. Ele analisa os diferentes estágios, caracterizados pelo conceito de relações de produção, que levaram a humanidade, desde a sociedade primitiva, passando pela sociedade escravocrata e pela sociedade feudal, até a sociedade burguesa de sua época.

Para Marx, a filosofia, conforme até então concebida, estava esgotada, de modo que a sua filosofia é conhecida com a do fim da história. Para Marx, a filosofia indica a necessidade da prática revolucionária de “transformar o mundo”. A análise filosófica tem que se estender à economia, política, história, sociologia. E a reflexão teórica deve dar lugar a uma prática revolucionária transformadora, por meio de uma concepção de unidade entre teoria e prática.
Sobre a crítica da Ideologia:

No texto A Ideologia alemã, Marx critica os filósofos hegelianos sustentando que eles, na tentativa de criticar a religião em prol de uma emancipação calcada no iluminismo, acabam por ignorar que a própria religião é instrumento das classes dominantes para preservar o poder político e econômico, e não a causa dessa dominação (a religião seria o ópio do povo).

A ideologia surgiu do trabalho de um pensador iluminista chamado Antoine Destrutt de Tracy, que tinha a proposta de formular uma ciência das idéias como uma espécie de história natural das idéias, examinando a origem e o processo de formação das idéias no homem. Pretendiam fornecer, em última análise, as bases para, por meio da educação, uma reforma da sociedade no espírito iluminista.

Mas Marx, com Engels, concebe o termo ideologia como falsa consciência, atribuindo-lhe um sentido negativo. A análise de Feuerbach, no caso, acaba sendo ideológica, porque não investiga criticamente as verdadeiras causas do fenômeno religioso.

A ideologia seria, assim, o mascaramento da realidade – se uma realidade opressora que faz com que o seu caráter negativo seja ocultado. A classe que tem à sua disposição os meios de produção material dispõe, ao mesmo tempo, dos meios de produção intelectual. As idéias dominantes nada mais são do que a expressão ideal das relações materiais dominantes concebidas como idéias.
A representação da classe dominante como sendo a verdadeira realidade produz uma aparente legitimação das condições existentes numa determinada sociedade em um período histórico determinado. Produz-se, com isso, uma forma de alienação da consciência humana de sua situação real de existência (as relações de produção). A tarefa da ideologia é evitar que a estrutura social profundamente desigual explicite-se no nível da consciência, e evitar que as classes sociais entrem em choque, em luta deflagrada (por uma revolta, obviamente, da classe oprimida).

A tarefa da filosofia crítica é desmascarar a ideologia. No entanto, se a filosofia não leva em conta as origens materiais da ideologia na relação de dominação existente na sociedade, ela torna-se inócua, senão uma parte da ideologia.

Por fim, vale ressaltar que, para Marx, a sociedade civil é mesmo o que os teóricos do liberalismo disseram, uma esfera econômica de interesses privados, é a economia de mercado capitalista. E o Estado, longe de ser a expressão da vontade geral e do interesse geral, o Estado é a expressão legal, jurídica e policial dos interesses de uma classe social particular, a classe dos proprietários privados dos meios de produção ou classe dominante.

A revolução:

Em uma sociedade determinada, no seu processo histórico de luta de classes, os conflitos e as contradições internas do próprio processo de dominação vão levar à crise dos sistemas econômicos e políticos, tornando possível a transformação da sociedade pela via da revolução. E quanto à religião, ao contrário do que diziam os iluministas, os homens não devem se libertar dela para conseguir liberdade política. Os homens só se libertarão da religião (no caso força exercida pelos poderosos burgueses) quando conquistarem a liberdade política.

Segundo Marx,

A crítica não retira as flores imaginárias que cobrem as algemas para que os homens as suportem sem fantasia nem consolo, mas para que se libertem e colham a flor viva.

E, como disse no Manifesto do Partido Comunista, “em lugar da velha sociedade, com suas classes e seus antagonismos de classe, teremos uma associação na qual o livre desenvolvimento de cada um é a condição para o livre desenvolvimento de todos”.
Marx acreditava que a revolução ocorreria na Inglaterra, o país capitalista mais avançado na época e, portanto, com um proletariado mais organizado e consciente e com crises externas mais explícitas. Lênin, contudo, acreditou que poderia implantar o socialismo na Rússia, um país essencialmente agrícola, sem um proletariado forte. Lênin amoldou em certa medida a doutrina de Marx, pois dela retirou, em certa medida, a herança hegeliana do forte determinismo histórico, enfatizando o papel do indivíduo, do intelectual revolucionário e do partido como vanguarda do proletariado.


Uma crítica do século XX: A Escola de Frankfurt

O saber tecnicista relega o interesse pela emancipação. A crítica dos frankfurtianos se volta à racionalidade técnica e instrumental que teria dominado a sociedade moderna com a Revolução Industrial. O diagnóstico da presença e império desse tipo de saber na sociedade atual levou os filósofos frankfurtianos ao pessimismo em relação á capacidade emancipatória do homem (diferente, todavia, em Habermas, crente ainda num projeto moderno de racionalidade pela comunicação e pelo consenso entre indivíduos racionais e livres – a modernidade é, para ele, um projeto inacabado).
Alguns dos aspectos centrais dessa dominação da técnica são a indústria cultural (e a arte como mercadoria) e a massificação do conhecimento, da arte e da cultura que produzem, diluindo assim sua força expressiva, seu significado próprio, transformando tudo em objeto de consumo.
Os frankfurtianos não são essencialmente revolucionários, eles apenas buscam inspiração na teoria marxista para uma análise da sociedade contemporânea, além de desenvolver o conceito de teoria crítica e de crítica da ideologia em uma perspectiva filosófica e sociológica.
Teoria crítica: 1) razão instrumental – técnico-científica. Intimidação do homem; 2) razão crítica – emancipatória do gênero humano.
As mudanças sociais, políticas e culturais só se realizarão verdadeiramente se tiverem como finalidade a emancipação do gênero humano e não as idéias de controle e domínio técnico-científico sobre a sociedade, a natureza e a cultura. De modo contrário, torna-se irremediável a inversão do domínio entre criador e criatura.