sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

A DESCOBERTA DA AMÉRICA E A QUESTÃO DA ALTERIDADE


A ANTROPOLOGIA E O OUTRO

Antropologia é o estudo do homem tomado em toda a sua diversidade, analisando suas diferentes culturas onde quase nada é natural no ser humano.
Ex: A forma de agir com base na cultura (comer arroz com feijão é cultural e não natural)
Todo antropólogo deve tornar exótico o que é familiar e tornar familiar aquilo que é exótico. No primeiro caso, é necessário diferenciar; no segundo, é necessário colocar-se no lugar de outrem. Deve também, o antropólogo, entender que nada é natural.

A DESCOBERTA DA AMÉRICA

É através da descoberta que surge uma preocupação antropológica em relação à alteridade (qualidade daquele que é outro). E, assim, surge a idéia de que o “mundo é maior”, metaforicamente significa que o mundo conhecido aumenta de tamanho. Também ocorre uma alteração européia na percepção de si e do outro.

POSSÍVEIS INTERPRETAÇÕES

O Requerimento, escrito por Palácios Rúbios em 1514, dava um amparo legal à conquista da América, dizendo que as terras pertenciam aos espanhóis.
Em 1550, na Espanha, ocorreu um debate entre o jurista e filosofo Gines de Sepúlveda e o padre dominicano Bartolome de Las Casas em torno da escravidão indígena.
Gines de Sepúlveda pregava a Teoria da Desigualdade (recusa do estranho) entre indígenas e europeus com ideais aristotélicos, dentre eles:
· Uns nascem para governar e outros nascem para serem governados;
· Falta a razão para uma parte da humanidade;
· O estado natural da sociedade humana é a hierarquia (inferioridade vs. superioridade).

Já a corrente da Teoria da Igualdade (fascinação em relação ao estranho), defendida por Bartolome de Las Casas, era fundamentada por ideais da doutrina cristã que diferenciava o crente do não-crente. O índio deveriam ser catequizados por não serem considerados crentes.
Assim, concluímos que ambos consideravam o índio como ser inferior, já que para Gines de Sepúlveda havia uma inferioridade intransponível, ou seja, não há uma mobilidade; e para Bartolome de Las Casas as circunstancias fizeram o índio como inferior (inferioridade circunstancial).
As pessoas hoje vêem a diferença como desigualdade. A antropologia existe para se opor a isso.





AS TRANSFORMAÇÕES DA EUROPA

O SÉCULO XVIII

Nesse período, Laplatini desenvolveu um projeto de conhecimento do homem (Projeto Positivo) com base em 2 itens da existência empírica do homem:
1. Alteração da natureza dos objetos observados de natureza cosmográfica e posteriormente dos objetos etnográficos, ou seja, ao invés de descrições da fauna e flora das novas terras, os colonizadores usavam da interpretação e análise do homem nativo;
2. O modo de estudar o ser humano, daí surge os Gabinetes de Curiosidades (coleção de objetos do novo mundo).

Durante o século XVIII, os indígenas eram vistos pelos europeus como selvagens.

O SÉCULO XIX

É nessa época que surge a antropologia como ciência, devido à Revolução Industrial e a Conferência de Berlim.
Na Revolução Industrial, os europeus foram em busca de matéria prima (algodão) em diversos lugares. E na Conferência de Berlim, os europeus visavam acabar com a soberania da África.

O Evolucionismo

Foi a 1ª corrente do pensamento antropológico, que foi representada por Lewis Morgan, James Frazer e Edward Tylor.
Para Lewis Morgan, criador da Teoria sobre a História da Humanidade, os povos deveriam passar por 3 etapas: selvageria, barbárie e civilização.
James Frazer escreveu o livro mais importante do evolucionismo (“O Ramo de Ouro”). Tal obra pregava que haveria evolução dos povos que começariam pela magia, passava pela religião e findava na ciência.
E Edward Tylor escreveu o primeiro conceito de cultura.

Nessa época, a antropologia é uma ciência que estuda as sociedades “primitivas” em todas as suas dimensões (política, religião, moral, etc.). Seria também uma ciência que estuda a origem a humanidade

Pontos de vista dos evolucionistas

·
Admitir uma unidade da espécie humana, ou seja, todos são seres humanos. Enquanto, no século XVIII, os indígenas eram considerados como meros selvagens, no século XIX, os índios eram considerados seres primitivos (poderiam evoluir);
· A espécie humana se desenvolve em ritmos desiguais, mas todos os povos têm que passar pelos mesmos estágios: selvageria, barbárie e civilização;
· Leis universais do desenvolvimento da humanidade;
· Vestígios do passado europeu;
· Estudos extensivos.

A Teoria das Espécies, de Charles Darwin foi distorcida para explicar a origem da cultura.

Problemas do evolucionismo

Os autores mediam o “atraso” com base em critérios ocidentais (que são usados até os dias atuais), que eram fatores econômicos e fatores tecnológicos. Esses fatores favoreciam os países da Europa.
Também iria servir como fundamentação teórica para o colonialismo. Havia um programa de poder e dominação dos povos que era conhecê-los, para posteriormente dominá-los.
As classificações etnocêntricas pregam que o progresso depende dos valores de quem observa. À época, os europeus eram muito etnocêntricos.
Claude Levi-Strauss, em 1952, escreveu uma crítica sobre a teoria evolucionista em um artigo da UNESCO, na qual comparava as culturas com trens. Cada cultura é um trem, que vai em direções diferentes. As culturas não se desenvolvem em linha reta. Segundo Levi-Strauss, as culturas caminham como o movimento do cavalo no xadrez.

O EVOLUCIONISMO E A ANTROPOLOGIA

O CONCEITO DE CULTURA DOS EVOLUCIONISTAS

Edward Tylor (1832 – 1917), em seu livro “A cultura primitiva”, define cultura, segundo os evolucionistas: “A cultura, tomado em seu amplo sentido etnográfico é este todo complexo que inclui conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, costumes ou qualquer outra capacidade ou hábitos adquiridos pelo homem como membro de uma sociedade”.

O termo “cultura” de Tyler está no singular. Ou seja, ele considera cultura e não culturas. Para os evolucionistas, há somente uma cultura. Só que os povos passam pela mesma cultura em diferentes épocas.

Na Idade Média, o tempo era visto de forma circular (estações do ano). Porém, no século XIX, isso muda. O tempo, agora, era visto de forma linear. São as características da visão do tempo linear:
1. Irreversibilidade do tempo;
2. Incerteza;
3. Ritmo inconstante.

O método em que os evolucionistas baseavam-se era o método comparativo, que baseava-se no raciocínio dedutivo, ou seja, parte do geral para o que é particular. Tinha como fundamento tirar os objetos, os costumes do seu contexto e reorganizar esses objetos em uma linha evolutiva, na qual o objeto europeu era o mais importante.
Assim, havia um lado positivo e outro negativo a respeito de tal teoria.



FRANZ BOAS E A ESCOLA CULTURAL AMERICANA


Franz Uri Boas, alemão, com graduação e doutorado em Física, criou a Escola Cultural Americana (Culturalismo) que criticavam os evolucionistas. Suas idéias eram baseadas na variação da cor da água: “Assim como a água, que mudavam de cor conforme o ângulo avaliado, as culturas também variam. Era necessário aproximar de uma cultura para perceber como é”.
Teve sua primeira pesquisa feita na Ilha de Baffin (Canadá) pesquisando os esquimós da tribo Inuits.
Uri Boas critica os arranjos dos museus. Para ele o objeto precisa ser colocado no seu contexto cultural, caso contrario não terá sentido.

Pontos do Raciocínio de Boas

· Para Boas, o que existem são várias culturas e não apenas uma cultura;
· Cria um novo método, o método histórico, que tinha como base o raciocínio indutivo (parte do que é particular para o geral):
1°) estudar uma cultura detalhadamente;
2°) relacionar essas culturas com as que são geograficamente próximas;
3°) só então, se possível, as generalizações são feitas.

· Para Boas era necessário observar todos os detalhes em uma cultura;
· Cabe ao antropólogo ir a campo. É com Boas que o pesquisador e o viajante se unem formando apenas uma pessoa;
· Ao estudar uma cultura, é necessário o aprendizado da língua do povo.


MALINOVSKI – O FUNCIONALISMO

Bronislaw Malinovski, polonês, estudioso em Física e Matemática e escritor da obra “Os argonautas do pacífico ocidental”, viajou as Ilhas Trobriand, na Austrália para estudos. Fundou a corrente do funcionalismo.
Criou o método antropológico de observação participante, onde não é necessário apenas observar, mas também participar. Esse método pregava que, para entender determinada cultura de um povo:
· Temos que entendê-lo através dos próprios conceitos desse povo;
· Basta um único costume, hábito que, se representativo, ajudará ao antropólogo entender a cultura;
· Devemos observar os acontecimentos aparentemente banais.



Idéias Não Aceitas

· Achava que as sociedades “simples” seriam sociedades estáveis e sem conflito.
Em contrapartida, toda sociedade muda (lento ou rápido) e não há sociedades sem conflitos.

· Pregava que as funções das Instituições eram de satisfazer necessidades.
Mas nossas necessidades são culturais, e não somente biológicas. Mesmo nossas necessidades biológicas, como a alimentação, são culturais.

O QUE É ANTROPOLOGIA?

A IDA AO CAMPO


Existe o problema da comunicação (como e o que falar), pois os povos geralmente, ao serem pesquisados, mudam seu habito e assim não conseguimos criar métodos de estudos eficientes em laboratório. Para que a pesquisa seja eficiente, é necessário que se leve em consideração os problemas do campo.

O ESTUDO DO INFINITAMENTE PEQUENO E COTIDIANO

É a forma se separar a antropologia da sociologia.
A sociologia estuda mais as tendências das grandes associações, e, a antropologia estuda mais as tendências de grupos marginais.

O ESTUDO DA TOTALIDADE

A antropologia, ao tentar observar o infinitivamente cotidiano, estudará em sua totalidade.
Marcel Mauss, sobrinho de Durkein, cria o conceito do fato social total.
Um fato social estuda apenas os acontecimentos exteriores, coercitivos e gerais. Ex.: crime.
Já um fato social total abrange várias dimensões da vida social. Essas dimensões podem ser de origem econômica, política, religiosa, estética, dentre outras.

A ANÁLISE COMPARATIVA

Baseadas em 3 etapas do estudo antropológico:

· Etnografia: coleta de dados;
· Etnologia: análise dos dados colhidos;
· Antropologia: estudar as variações das lógicas culturais.
Ex.: a questão do preconceito, primeiro estuda-se no Brasil, depois faz um estudo nos EUA, para à partir desses estudos se verificar as lógicas do preconceito. Assim, conclui-se que o preconceito no Brasil, que tem origem financeira, é diferente do preconceito norte-americano, que independe do financeiro.



Diferenças


Evolucionistas
Antropologia
Método
comparativo
observação participante (Malinovski)
Objeto
sociedades primitivas
todos os indivíduos
Contexto
costumes tirados do contextos e colocados numa linha evolutiva
variação das lógicas culturais

A QUESTÃO DO DENTRO E DO FORA

· Dentro: internalizar a cultura;
· Fora: como não é necessário apenas o “dentro”, há a necessidade de reproduzir a fala do nativo, mas com uma certa distância para uma análise correta.


OS DETERMINISMOS E A CULTURA

DETERMINISMO BIOLÓGICO

Na biologia pura, em si, as diferenças culturais seriam diferenciadas das culturas genéticas. Mas a antropologia mostra que as diferenças genéticas não determinam as diferenças culturais.
Ex.: a divisão sexual do trabalho não é dada pela genética, e sim pela cultura, como o exercito israelense, onde não é permitido mulheres devido à falta de força física.

DETERMINISMO GEOGRÁFICO

As culturas seriam diferenciadas pela geografia, mas, pela antropologia, existem limites de influência geográfica sobre a cultura.
Ex.: judeus e muçulmanos não se alimentam com carne de porco, por preservarem.


TEORIAS SOBRE O SURGIMENTO DA CULTURA

1. Bipedismo: o homem torna-se um ser cultural quando se torna bípede (libera as mãos para criar e manipular instrumentos para criação da cultura).
2. Cérebro Volumoso: aumenta-se a capacidade de raciocínio.
3. Leslie White: o homem começa a ser capaz de criar símbolos.
4. Claude Levi-Strauss: em todas as sociedades existe o tabu do incesto.


O CONCEITO DE CULTURA

O HOMEM, O INSTINTO E A CULTURA

Só o homem que produz cultura, que nos separa dos outros animais.
Só o homem acumula experiências e as transmite de uma geração para outra.
Só o homem que renova e transforma o comportamento. Os animais mudam o comportamento ao meio mudar e o homem interagem com o meio.
O homem é mais, e não somente, levado pela cultura do que pelos instintos, que são abafados pela nossa cultural, na maioria das vezes.

Entre as páginas 51 a 53 do livro “Cultura: um conceito antropológico” fala sobre os mais diversos instintos.

Como falar em instinto materno, quando sabemos que o infanticídio é um fato muito comum entre diversos grupos humanos? Tomemos o exemplo das mulheres Tapirape, tribo Tupi do Norte do Mato Grosso, que desconheciam quaisquer técnicas anticoncepcionais ou abortivas e eram obrigadas, por crenças religiosas, a matarem todos os filhos após o terceiro. Tal atitude era considerada normal e não criava nenhum sentimento de culpa entre as praticantes do infanticídio.
Como falar em instinto filial, quando sabemos que os esquimós conduziam os seus velhos pais para as planícies geladas para serem devorados pelos ursos? Assim fazendo, acreditavam que o mesmo seria reincorporado na tribo quando o urso fosse abatido e devorado pela comunidade.
Como falar em instinto sexual? Muitos do os casos conhecidos de adolescentes, crescidos em contextos puritanos, que desconheciam completamente como agir em relação aos membros do outro sexo, simplesmente por que não tiveram possibilidade de presenciar nenhum ato sexual e ninguém os ter esclarecido sobre tais atitudes.
Concluindo, tudo que o homem faz, aprendeu com os seus semelhantes e não decorre de imposições originadas fora da cultura. (A este respeito, consulte o nosso Anexo l – “Uma experiência absurda”.).

CARACTERÍSTICAS DA CULTURA

Todas as culturas possuem características simbólicas, sociais, dinâmicas e estáveis, seletiva.

· Simbólica: todas são constituídas por um conjunto de significados sistematizados e transmitidos através de símbolos e sinais, ou seja, pela linguagem.
Ex.: o símbolo do estacionamento permitido, as marcas.

· Social: porque é socialmente partilhada ideologicamente.
Ex.: idéias partilhadas em uma sala quanto à função de professor.

· Dinâmica e Estável: são dinâmicas porque estão sempre modificando, e estáveis por estarem dentro de um determinado período, vivemos em um determinado padrão.

· Seletiva: porque as culturas selecionam do meio o padrão que querem para si. Inconscientemente as culturas escolhem padrões.
Ex.: as culturas poliandras, que permitem um homem para várias mulheres, não é aceito no Brasil; o homossexualismo, que é aceito em parte da Europa, não é aceito no Brasil.


A cultura é determinante e determinada. Determinante, pois ela que determina nosso comportamento. Determinada, porque modificamos a cultura.
Ex.: ser mulher na década de 20 é diferente de ser mulher atualmente.


CONCLUSÕES

Podemos concluir então que a cultura, muito mais que a herança genética, é que determina o comportamento do homem.
O homem é mais movido pela cultura que pelos instintos.
Tudo isso ocorre porque o homem, diferentemente dos outros animais, interagem com o meio.
A cultura é um processo cumulativo (acumular experiências), ou seja, está sempre mudando.


VOCÊ SABE COM QUEM ESTÁ FALANDO?

É um aprendizado latente, ou seja, uma maneira velada de mostrar preconceito. Roberto da Matta diz que o aprendizado latente é um aprendizado escamoteado, encoberto.
Não é possível precisar o início.


É UM RITO AUTORITÁRIO

O
“você sabe com quem está falando” é uma forma autoritária de resolver conflitos (mostra problemas no sistema).
Segundo Roberto da Matta, o brasileiro não aceita a existência de conflitos, pois acha-se que o conflito é uma revolta social. Vemos o conflito como pressagio de fim do mundo.


QUEM USA

Costumam-se usar a frase “você sabe com quem está falando” para humilhação.

HIERARQUIA NO BRASIL

Roberto da Matta diz que a hierarquia no Brasil baseia-se na intimidade social, ou seja, não é uma hierarquia pura e simples, baseada em um único eixo (ex.: eixo econômico).
É baseada em um sistema de relações entrecortadas (ex.: eixo moral vs. eixo econômico).

Identificação Social Vertical: significa que não nos identificamos à pessoas semelhantes, e sim com quem está em condição superior.
Ex.: “pobre, mas limpinho”.

Uma vez que todos se identificam com quem está acima (identificação social vertical), nada muda. E segundo Roberto da Matta, tal fato impede a tomada de consciência horizontal; no Brasil, não são formadas éticas horizontais, ou seja, não há união com os economicamente semelhantes.
Sobre as relações entrecortadas, Roberto da Matta diz que de um lado equaliza as diferenças, do outro, há a diferenciação sistemática das diferenças (ética horizontal).


DRAMATIZAÇÃO DA VIDA SOCIAL

O
“você sabe com quem está falando” é considerado para da Matta, uma dramatização da vida social, ou seja, uma resolução de problemas com dramaticidade.
Tal frase é usada em 3 situações:

1. Papel universal vs. Identidade social com autoridade delegada;
Ocorre o papel universal quando as leis são as mesmas para todos (motorista, cidadãos);
A identidade social com autoridade delegada ocorre quando há uma pessoa, cuja profissão delega certa autoridade (policial).

2. Quando 2 pessoas tentam se contrapor, mas resolvem de forma civilizada (igualdade);
3. Há o uso positivo da frase, quando desejam restaurar a ordem quebrada.

BRASIL vs. EUA

Roberto da Matta compara a socialização no Brasil e nos Estados Unidos e notou a diferença entre as 2.
No Brasil, somos socializados a não perguntar, pois a socialização faz parte de uma agressão. E nos Estados Unidos as pessoas são socializadas a não dizer “não sei”.
Para da Matta,
“você sabe com quem está falando” no Brasil está atrelado à um rito ordinário; o oposto ocorre nos Estados Unidos, que “você sabe com quem está falando” é um rito igualitário.

INDIVÍDUO vs. PESSOA

O individuo é aquele que é fruto das suas escolhas. E as pessoas possuem um papel pré-estabelecido.
Para que o individuo exista, é necessário: a liberdade de escolha, igualdade e o fruto das suas escolhas.
O “você sabe com quem está falando” permite ir do anonimato ao conhecido.
Segundo Roberto da Matta, em algumas sociedades predomina o individuo, em outras predominam a pessoa.
Hoje em dia predomina o conceito de individuo. Mas, no Brasil, ora agimos como indivíduo, ora como pessoa (misto), pois “indivíduo” possui uma conotação negativa, é uma pessoa má vista porque não se insere em grupo algum.

LEIS NO BRASIL

A Lei ordena o mundo com indivíduos, e, no Brasil, não desejam ser indivíduos porque a conotação é negativa.
Os brasileiros não aceitam a igualdade da Lei, e, assim, usam a frase “você sabe com quem está falando”.
Para da Matta, no Brasil existe a teoria do Universo das Relações, na qual tentam fugir da igualdade.


CIDADANIA NO BRASIL

É NATURAL SER CIDADÃO?

??


CIDADANIA NO BRASIL

Ser cidadão no Brasil é ser um igual para baixo, ou seja, é igualado para depois ser inferiorizado.
É considerado cidadão aqueles que não possuem condições; e no Brasil, há uma ausência de relações perante a cidadania.
Também, a palavra “cidadão” é usada de forma negativa.
Roberto da Matta considera indivíduos os alunos públicos, os detentos, as pessoas que enfrentam filas, etc.


O JEITINHO BRASILEIRO

O QUE É


Lívia Barbosa entrevistou cerca de 200 pessoas no Brasil e chegou a conclusão que o jeitinho é um jeito especial de resolução dos problemas, das situações difíceis e proibidas.
Ex.: pede-se a outrem dar um jeitinho de consertar um objeto.

O jeitinho é ambíguo, ou seja, possui vários sentidos. Ora aparece como favor (vista de forma positiva), ora como corrupção (vista de forma negativa).


FAVOR vs. JEITINHO vs. CORRUPÇÃO

O jeitinho é difícil de compreender porque é ambíguo.

Favor vs. Jeitinho

FAVOR
JETINHO
Estabelece entre as pessoas participantes uma relação hierárquica, pois se usa quando se precisa muito. Como o favor é solicitado a conhecidos, sempre existirá um sentimento de divida com o outro.
Estabelece entre as pessoas participantes uma relação igualitária, pois se usa termos que irão igualar as pessoas desconhecidas, como chapa e camarada.
É formal, sério, particular.
É informal.
Não envolve transgressão de regras ou normas.
Envolve transgressão de regras ou normas.

Jeitinho vs. Corrupção

Uma vez que ambos envolvem valores monetários, a diferença primordial entre ambos dá-se pela quantidade do valor. No jeitinho, envolve-se valores baixos, o inverso ocorre na corrupção.
QUANDO USAR

É fortemente usado em situações burocráticas.

O QUE MAIS INFLUI

São 3 os elementos mais influentes no jeitinho:


1. O modo de pedir: humilde, cordial, simpático;
2. O sexo dos envolvidos: pessoas do sexo oposto têm mais possibilidade de se conseguir, na qual a probabilidade de um homem ajudar a uma mulher é superior em relação ao inverso; sendo ambas as mulheres, a probabilidade de ajuda é nula.
3. Roupas, status, dinheiro: caso não os tenham, passará a não ter importância aos demais.


COMO SER EFICAZ

· Chorar miséria, ou seja, envolver emocionalmente o outro;
· Compartilhas os problemas;
· Individualizar o sistema, e não humanizar.

O JEITO E AS LEIS

No Brasil o que vale é a relação (camaradagem, amizade, etc.).
O brasileiro normalmente usa o jeitinho para resolver problemas de origem burocrática (rígida, ineficaz, não dando margem para o bom senso).

O JEITINHO BRASILEIRO vs. VOCÊ SABE COM QUEM ESTÁ FALANDO?

É mais fácil começar do jeitinho e passar, posteriormente usar o você sabe com quem está falando.
No Brasil, as pessoas, no geral, não adotam nenhum especifico, mas adotam ambos, ou seja, as escolhas são relativas e não absolutas. Por isso, o Brasil é complexo.



JEITINHO
VOCÊ SABE COM QUEM ESTÁ FALANDO?
DO PONTO DE VISTA DOS ENVOLVIDOS

Ritual de aglutinação para estabelecer um elo com a pessoa para estabelecer o jeitinho.
Ritual de separação porque tento, com a frase, me separar.

QUANTO AOS LIMITES DA UTILIZAÇÃO
Não são bem definidos, porque o jeitinho é ambíguo, mal definido (ora favor, ora corrupção).
Limites definidos porque é usado para resolver conflitos de forma hierárquica.
COMO RESOLVEM A SITUAÇÃO
Resolvemos a situação por meio de barganha, de negociação.
Ritual de separação porque tento, com a frase, me separar.

SUA ACEITAÇÃO
Aceito socialmente, pois é visto como parte da identidade nacional.
Não é aceito socialmente, pois é visto como algo antipático.

QUANTO À IDENTIFICAÇÃO
Não uso minhas identidades porque se pede para desconhecidos.
Usa-se a própria identidade.

TIPO DE RECURSO
Recursos individuais, porque tem a ver com cordialidade.
Recursos sociais relevantes.
REAÇÃO
Traz sempre reações positivas porque mesmo que não a ajude, foi humilde, cordial.
Reação sempre negativa porque se deseja sempre o mal.

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